O entusiasmo com que o diretor William
Costa Lima fala do coletivo O Pequeno
Teatro de Torneado é contagiante.
A maneira como ele recebe o público e convida a todos para compartilharem o
espetáculo que vai ser apresentado é um grande exemplo de acolhimento que
deveria ser seguido por todos aqueles que fazem teatro. Quando fui jurado do
prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro em 2012 dei uma sugestão (que não foi aceita)
para se criar uma categoria de prêmio de acolhimento. Se existisse tal prêmio,
William seria um forte candidato a ele.
Neste ano tive a oportunidade de
assistir a dois espetáculos de O Pequeno
Teatro de Torneado: o intimista O Girador e agora o épico Peter em Fúria; dois trabalhos bastante
distintos, mas ambos de muita qualidade.
Em um documentário sobre Peter em Fúria, William Costa Lima
comenta que em muitos lugares da periferia muitas crianças não crescem porque
morrem antes. Não têm a opção de Peter Pan de não querer crescer, elas
simplesmente não podem crescer porque morrem subnutridas ou assassinadas
antes de atingir a idade adulta. Esse é o mote principal da peça inspirada em Peter e Wendy escrita em 1904 pelo
inglês J. M. Barrie (1860-1937). A ação foi transposta para uma favela num
bairro periférico da cidade de São Paulo e o que era conto de fadas virou a crua
realidade: logo no início Peter mata a tiros um colega da comunidade sob a
vista de outros companheiros que parecem curtir o fato.
A peça apresenta vários núcleos e
personagens que em dado momento tornam a situação confusa. Ao meu modo de ver
seria interessante dar uma “enxugada” no texto, para torná-lo mais claro para o
público a que se destina.
O elenco composto por quase trinta
jovens oriundos de todos os cantos da cidade respondem ao entusiasmo de seu
diretor em igual intensidade. Atuam com as emoções à flor da pele como se aquele
fosse o último dia de suas vidas. Cá ou lá se pode notar alguma deficiência
interpretativa, mas nada que comprometa o resultado final. Pelo destaque de
suas personagens, cabe salientar as presenças de Pablo Juan (Peter), Aguida
Aguiar (Sininho), Higor Moura (João) e de Júlia Calderoni que desempenha a mãe do
rapaz que Peter matou e que é responsável pelo pungente monólogo quase ao final
da peça quando lança uma maldição sobre Peter.
Ponto alto do espetáculo é a trilha
composta por William e Bruno Lourenço, este último também responsável pela
direção musical. As canções são interpretadas ao vivo pelo afinadíssimo elenco.
Peter Pan é trabalho digno feito por
jovens comprometidos com a realidade em que vivemos e merece ser prestigiado
por quem acredita num teatro além do mero entretenimento.
ÚLTIMAS APRESENTAÇÕES no Espaço
Redimunho: 16/11 e 22/11 às 17h e 25/11 às 20h (apresentação fechada para
convidados e imprensa).
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