O
brilhante texto de David Mamet foi montado sem maior repercussão em 1996 por
Antonio Fagundes com direção de Ulysses Cruz e agora recebe esta bem sucedida tradução
cênica de Gustavo Paso que o valoriza e privilegia a cumplicidade do público,
pois são apenas 40 pessoas (20 de cada lado do espaço cênico) que testemunham a
um palmo do nariz o terrível embate entre as duas personagens.
Um
dos e, talvez, o maior mérito do texto de Mamet é o verdadeiro pingue pongue
que ele faz com o raciocínio do espectador que ora se vê do lado da aluna e ora
está dando razão à professora. A peça termina sem a definição de um lado certo,
pois não há lado certo no mundo em que vivemos.
A
trama é bastante simples: uma aluna dirige-se à sala de sua professora para
pedir que esta revise sua nota de reprovação. Num jogo de palavras aonde vêm à
tona os problemas de cada uma delas a relação entre as duas vai se tornando
tensa transformando-se em uma verdadeira batalha de gato e rato, onde cada uma
tem a sua vez de ser este ou aquele; as posições vão se alternando para mostrar
a crueldade que se apodera de quem está com o poder. A peça mostra uma situação
limite, mas tal fato pode ocorrer em maior ou menor escala (e não por isso
menos terrível) em qualquer relação: aluno/professor, subordinado/chefe (muito
bem mostrada na peça Contrações de
Mike Bartlett, ainda em cartaz na cidade), filho/pais, companheiro/companheira, torturado/torturador e até
entre amigos.
A
peça depende essencialmente do trabalho das atrizes, fato levado em
consideração pelo encenador que foca sua montagem na atuação das mesmas.
Cenário simples e funcional, assim como, figurinos e iluminação não fazem o
espectador desviar os olhos do poderoso jogo interpretativo. Miwa (pronuncia-se
Miuá, segundo informação da própria atriz) Yanagizawa desincumbe-se com muita
garra do papel de professora reforçando o talento já demonstrado em Trágica.3 e Luciana Fávero vai com muita
desenvoltura da insegura e frágil aluna do início à perversa manipuladora do
final. Trabalhos intensos que devem ser lembrados nas listas dos melhores do
ano.
Além
desta há outra versão da peça onde o professor é interpretado por Marcos Breda.
A conotação homossexual dá lugar a um assédio hetero, mas o jogo do poder e o
estupro moral (temas principais da peça) devem permanecer os mesmos. Como
curiosidade cabe lembrar que na última semana de apresentação a personagem do
professor será vivida simultaneamente por Miwa e Breda.
OLEANNA
é um espetáculo intimista de forte carga emocional que precisa ser visto pela
atualidade do tema tratado (a manipulação pelo poder). Em cartaz no Sesc
Pompeia até 05 de julho, sextas e sábados às 21h e domingos às 19h.
Paralelamente
à peça o Sesc Pompeia está apresentado filmes que envolvem o nome de David
Mamet como também debates sobre a sua obra. Nesse verdadeiro Festival Mamet
cabe lembrar que está em cartaz no Teatro Vivo a peça de sua autoria O Sucesso a Qualquer Preço, que também trata dos malefícios
do poder.
Fotos de Monica Vilela.
22/06/2015
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