segunda-feira, 22 de junho de 2015

OLEANNA


 


        O brilhante texto de David Mamet foi montado sem maior repercussão em 1996 por Antonio Fagundes com direção de Ulysses Cruz e agora recebe esta bem sucedida tradução cênica de Gustavo Paso que o valoriza e privilegia a cumplicidade do público, pois são apenas 40 pessoas (20 de cada lado do espaço cênico) que testemunham a um palmo do nariz o terrível embate entre as duas personagens.
        Um dos e, talvez, o maior mérito do texto de Mamet é o verdadeiro pingue pongue que ele faz com o raciocínio do espectador que ora se vê do lado da aluna e ora está dando razão à professora. A peça termina sem a definição de um lado certo, pois não há lado certo no mundo em que vivemos.
        A trama é bastante simples: uma aluna dirige-se à sala de sua professora para pedir que esta revise sua nota de reprovação. Num jogo de palavras aonde vêm à tona os problemas de cada uma delas a relação entre as duas vai se tornando tensa transformando-se em uma verdadeira batalha de gato e rato, onde cada uma tem a sua vez de ser este ou aquele; as posições vão se alternando para mostrar a crueldade que se apodera de quem está com o poder. A peça mostra uma situação limite, mas tal fato pode ocorrer em maior ou menor escala (e não por isso menos terrível) em qualquer relação: aluno/professor, subordinado/chefe (muito bem mostrada na peça Contrações de Mike Bartlett, ainda em cartaz na cidade), filho/pais, companheiro/companheira, torturado/torturador e até entre amigos.        
        A peça depende essencialmente do trabalho das atrizes, fato levado em consideração pelo encenador que foca sua montagem na atuação das mesmas. Cenário simples e funcional, assim como, figurinos e iluminação não fazem o espectador desviar os olhos do poderoso jogo interpretativo. Miwa (pronuncia-se Miuá, segundo informação da própria atriz) Yanagizawa desincumbe-se com muita garra do papel de professora reforçando o talento já demonstrado em Trágica.3 e Luciana Fávero vai com muita desenvoltura da insegura e frágil aluna do início à perversa manipuladora do final. Trabalhos intensos que devem ser lembrados nas listas dos melhores do ano.
 
 
        Além desta há outra versão da peça onde o professor é interpretado por Marcos Breda. A conotação homossexual dá lugar a um assédio hetero, mas o jogo do poder e o estupro moral (temas principais da peça) devem permanecer os mesmos. Como curiosidade cabe lembrar que na última semana de apresentação a personagem do professor será vivida simultaneamente por Miwa e Breda.

        OLEANNA é um espetáculo intimista de forte carga emocional que precisa ser visto pela atualidade do tema tratado (a manipulação pelo poder). Em cartaz no Sesc Pompeia até 05 de julho, sextas e sábados às 21h e domingos às 19h.

        Paralelamente à peça o Sesc Pompeia está apresentado filmes que envolvem o nome de David Mamet como também debates sobre a sua obra. Nesse verdadeiro Festival Mamet cabe lembrar que está em cartaz no Teatro Vivo a peça de sua autoria O Sucesso a Qualquer Preço, que também trata dos malefícios do poder.

 

Fotos de Monica Vilela.

 

22/06/2015

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