Ele
a ama e ela o ama. Seria relativamente simples e bem aceito se ele não se chamasse Alice e
ela não se chamasse Godofredo. Ela, Alice, uma mulher em um corpo de homem e ele,
Godofredo, um homem em um corpo de mulher... Perdidamente apaixonados! Como
resolver esse impasse e como enfrentar a intolerância da família e da
sociedade?
Essas
são as questões que Newton Moreno nos coloca de maneira suave e até engraçada neste
drama que trata de questões e dúvidas que afetam todos os jovens, em especial, os
homossexuais.
Um
elenco jovem enfrenta com coragem as personagens propositalmente estereotipadas que devem
interpretar: as "bichinhas" efeminadas, as "sapatas" masculinizadas, a mãe
intolerante, a avó compreensiva e até o hetero que é apaixonado por Godofredo.
O bonito disso tudo é que todos se revelam seres humanos dotados de sentimentos
muitos deles bastante nobres e aí está a grande lição de tolerância e humanidade
que o espetáculo dirigido por Cecília Schucman e Tatiana Caltabiano nos passa.
Num momento particularmente bem resolvido da peça o casal vai a um desses
programas de TV para solicitar dinheiro para que ambos façam cirurgia de
mudança de sexo e um apresentador canibalesco como tantos que presenciamos na
realidade (ótima intervenção de Luiz Gustavo Jahjah) explora ao máximo a situação
envolvendo o público nas propostas de solução do assunto. Na sessão a que
assisti um casal da plateia nas mesmas condições de Godofredo e Alice deu um
depoimento sobre seu relacionamento.
Godofredo e Alice soma-se a Luís Antonio, Gabriela, Maria Que Virou Jonas ou A Força da Imaginação e BRTrans na delicada e necessária discussão sobre travestismo,
transexualismo e mudança de sexo e tem importância adicional por tratar do
universo jovem e a ele se dirigir.
A
direção optou por apresentar o espetáculo na forma de musical utilizando de
maneira bastante criteriosa canções de Lulu Santos cujas letras se encaixam na
trama apresentada.
Godofredo e Alice trata de assuntos
delicados e polêmicos que nos fazem refletir e tomar posição sobre os mesmos,
mas o faz de maneira poética e até divertida resultando também em ótimo
entretenimento.
Lamentavelmente
a peça cumpriu temporada somente até 14/10 no Centro Cultural São Paulo.
Fique atento se ela voltar ao cartaz e leve seus filhos adolescentes.
14/10/2015
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