A Perseguição e o
Assassinato de Jean Paul Marat Conforme Foram Encenados pelos Enfermos do
Hospício de Charenton, Sob a Direção do Marquês de Sade
A histórica montagem de Marat-Sade de 1967 dirigida por Ademar
Guerra com elenco estelar é um dos 28 espetáculos mais significativos de minha longa
vida de espectador (cerca de 3200 peças de teatro em 53 anos). Faço descrição
detalhada do que a memória guardou desse espetáculo em capítulo especial de meu
livro O Teatro Paulistano de 1964 a 2014-Memórias
de Um Espectador. Faço esse preâmbulo apenas para explicar porque me dirigi
ao Teatro Commune com certo receio de assistir a uma nova montagem desse
complexo texto com um jovem elenco egresso do Teatro Escola Macunaíma em 2013;
a seu favor havia a direção assinada pelo experiente Reginaldo Nascimento.
Em primeiro lugar louve-se o trabalho do
encenador em criar boa ambientação do hospício (ele também assina a cenografia)
e colocar elenco de 23 pessoas no pequeno espaço cênico do Teatro Commune. A
movimentação sincronizada dos numerosos participantes é um dos grandes trunfos
da montagem, assim como, as cenas corais.
A belíssima trilha de Richard Peaslee
criada para a montagem londrina de Peter Brook (que posteriormente virou filme)
foi também usada na montagem de Guerra, mas nesta versão optou-se por trilha
criada por Ângela Calderazzo (tendo Mariva Lima e Reinaldo Rodriguez como co-autores), também muito bonita e adequada e como escrevi acima
muito bem interpretada pelo elenco.
Entre os destaques naturais da peça
estão os papéis de Marat, Sade, Sr. Coulmier (o diretor do hospício), Padre
Roux, Charlotte Corday, Duperret e o Anunciador e todos os atores saem-se bem
no desempenho dessas personagens, em especial Fernanda Tessitore (Corday) e Reinaldo
Rodriguez (Coulmier). Fiquei relativamente incomodado com a dicção de Mariva
Lima (Sade) acreditando que fosse problema vocal do ator, mas nos
agradecimentos ao final da peça ele se dirigiu à plateia com bela emissão e
dicção perfeita. Aquele modo de falar deve fazer parte de sua composição da personagem,
mas ao meu modo de ver, compromete sobremaneira os embates entre ele e Marat
que são cenas capitais da peça.
Cada um dos outros atores faz
composições dos loucos do hospício de Charenton e nada mais elogioso do que
notar que em certos momentos eles roubam a cena com seus trejeitos e expressões
faciais.
No todo o espetáculo funciona muito bem
com belos figurinos de Vanusa Costa e criativa iluminação de Vanderlei Conte
que tem seu ponto alto na cena do assassinato de Marat.
O impacto da cena final com a tentativa
de invasão dos loucos no recinto da plateia era imenso na montagem de 1967
quando uma enorme grade caia cobrindo todo o palco e os insanos ficavam
pendurados nela olhando desafiadoramente para o público. Por razões de custos
de produção seria muito difícil recriar essa cena na atual montagem, mas a
solução achada por Reginaldo Nascimento é bastante criativa e não vou
descrevê-la para não tirar a surpresa de quem vai assistir a esta digna
recriação do texto do dramaturgo alemão Peter Weiss (1916-1982).
MARAT-SADE
está em cartaz no Teatro Commune às quartas e quintas às 21h até 22/06.
29/05/2016
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