domingo, 29 de maio de 2016

MARAT-SADE


A Perseguição e o Assassinato de Jean Paul Marat Conforme Foram Encenados pelos Enfermos do Hospício de Charenton, Sob a Direção do Marquês de Sade

        A histórica montagem de Marat-Sade de 1967 dirigida por Ademar Guerra com elenco estelar é um dos 28 espetáculos mais significativos de minha longa vida de espectador (cerca de 3200 peças de teatro em 53 anos). Faço descrição detalhada do que a memória guardou desse espetáculo em capítulo especial de meu livro O Teatro Paulistano de 1964 a 2014-Memórias de Um Espectador. Faço esse preâmbulo apenas para explicar porque me dirigi ao Teatro Commune com certo receio de assistir a uma nova montagem desse complexo texto com um jovem elenco egresso do Teatro Escola Macunaíma em 2013; a seu favor havia a direção assinada pelo experiente Reginaldo Nascimento.
        Em primeiro lugar louve-se o trabalho do encenador em criar boa ambientação do hospício (ele também assina a cenografia) e colocar elenco de 23 pessoas no pequeno espaço cênico do Teatro Commune. A movimentação sincronizada dos numerosos participantes é um dos grandes trunfos da montagem, assim como, as cenas corais.
        A belíssima trilha de Richard Peaslee criada para a montagem londrina de Peter Brook (que posteriormente virou filme) foi também usada na montagem de Guerra, mas nesta versão optou-se por trilha criada por  Ângela Calderazzo (tendo Mariva Lima e Reinaldo Rodriguez como co-autores), também muito bonita e adequada e como escrevi acima muito bem interpretada pelo elenco.
        Entre os destaques naturais da peça estão os papéis de Marat, Sade, Sr. Coulmier (o diretor do hospício), Padre Roux, Charlotte Corday, Duperret e o Anunciador e todos os atores saem-se bem no desempenho dessas personagens, em especial Fernanda Tessitore (Corday) e Reinaldo Rodriguez (Coulmier). Fiquei relativamente incomodado com a dicção de Mariva Lima (Sade) acreditando que fosse problema vocal do ator, mas nos agradecimentos ao final da peça ele se dirigiu à plateia com bela emissão e dicção perfeita. Aquele modo de falar deve fazer parte de sua composição da personagem, mas ao meu modo de ver, compromete sobremaneira os embates entre ele e Marat que são cenas capitais da peça.
        Cada um dos outros atores faz composições dos loucos do hospício de Charenton e nada mais elogioso do que notar que em certos momentos eles roubam a cena com seus trejeitos e expressões faciais.
        No todo o espetáculo funciona muito bem com belos figurinos de Vanusa Costa e criativa iluminação de Vanderlei Conte que tem seu ponto alto na cena do assassinato de Marat.
        O impacto da cena final com a tentativa de invasão dos loucos no recinto da plateia era imenso na montagem de 1967 quando uma enorme grade caia cobrindo todo o palco e os insanos ficavam pendurados nela olhando desafiadoramente para o público. Por razões de custos de produção seria muito difícil recriar essa cena na atual montagem, mas a solução achada por Reginaldo Nascimento é bastante criativa e não vou descrevê-la para não tirar a surpresa de quem vai assistir a esta digna recriação do texto do dramaturgo alemão Peter Weiss (1916-1982).

        MARAT-SADE está em cartaz no Teatro Commune às quartas e quintas às 21h até 22/06.

29/05/2016



Nenhum comentário:

Postar um comentário