Pois
é! Chico Buarque uma vez cantou que “o
tempo passou na janela, só Carolina
não viu”. Para os carolinos de Cássio Pires o mundo passa e eles sequer
dirigem-se à janela para olhar o que acontece lá fora. São jovens alienados
movidos a sexo, bebida e rock and roll, voltados para o próprio
umbigo. O primeiro casal ainda tenta discutir e entender o que ocorreu na
chacina ocorrida em Osasco em 13 de agosto de 2015, mas nas demais cenas o
máximo que se ouve sobre o fato é a pergunta “Essa história que aconteceu em Osasco, o que você acha?”. Ninguém
responde ou dá continuidade ao assunto. Tiros parecem atingir os carolinos
durante suas discussões, mas eles se recompõem logo a seguir, como se nada
tivesse acontecido. Um personagem vai a um bar no local da chacina e mostra-se
interessado em saber o que aconteceu, mas acaba apenas dando vazão a suas
angustias pessoais.
O
texto de Cássio Pires é engenhoso e difícil de ser resumido. Formada de cenas
isoladas a peça tem como pano de fundo a violência urbana, no caso, ilustrada
com a já citada chacina de Osasco que é mais uma entre tantas outras que
acontecem em uma cidade como São Paulo.
O
espaço cênico do mezanino da Fiesp é um longo corredor e André Cortez soube
ocupá-lo de maneira bastante criativa com cenas ocorrendo em vários planos.
Yara de Novaes realiza nesse espaço uma provocativa direção auxiliada pela trilha
sonora de Dr. Morris e pela atuação do jovem e vigoroso elenco.
O
ano teatral paulistano de 2016 vai ficar marcado pelo surgimento de vários
grupos de jovens egressos de escolas de teatro que realizaram trabalhos sérios
e altamente profissionais. Desta vez são aqueles advindos do Núcleo
Experimental de Artes Cênicas do Sesi-SP que provocam impacto com seu
despojamento, talento e coragem ao interpretar personagens complexos e com
pouco desenvolvimento em função da curta duração das cenas. As necessárias
cenas de sexo e nudez são realizadas com muita naturalidade e bom gosto. Ao ver
trabalho tão sério com grupo tão jovem, penso feliz: “Nosso teatro tem futuro!!
Assisti
ao espetáculo no último dia e nessa apresentação uma senhora, parente de um dos
executados, não conteve fortes soluços ao final da peça, o que provocou comoção
generalizada do elenco, do autor, da diretora, da produtora e de todo o público
presente. A realidade, muitas vezes, supera a ficção.
Tiros em Osasco ficará para sempre como
uma forte experiência da minha longa vida de espectador.
Infelizmente
a peça saiu de cartaz no último domingo, mas a nossa torcida é que ela volte ao
cartaz e que os jovens deste Brasil que elegeram Dórias e Crivellas corram para
assistir.
10/11/2016
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