Os
mistérios do teatro! Arte única por sua efemeridade. Uma plateia e o espírito
de determinado espectador fazem hoje um espetáculo que jamais será o mesmo,
mesmo que repetido sem nenhuma aparente alteração.
Em
uma sexta feira, dia 18 de novembro, após exaustiva jornada, fui à estreia do
musical Auê, vindo do Rio de Janeiro
carregado de elogios e de indicações para prêmios.
O
cansaço e uma plateia que beirava o histerismo nas reações e aplausos (uma
senhora sentada na fileira atrás da minha urrava a cada momento “Lindo! Maravilhoso!! UUUUU!!!”) foram
tomando conta de mim e criando um antagonismo em relação ao espetáculo. A
partir daí foi só irritação e ao final saí bastante incomodado do teatro.
Dias
depois fui ouvir o CD que contém a trilha da peça. Surpresa! Adorei as músicas
com belas letras e melodias. Entendi a proposta e fiquei muito propenso a rever
o espetáculo, enquanto ouvia e reouvia o disco.
Na
reunião da APCA para escolher os indicados do segundo semestre, Duda Maia foi
nomeada por votação na categoria “direção” e confesso que eu ainda não estava
convencido.
Tudo
isso para contar que na noite de ontem fui rever AUÊ. As músicas, os
intérpretes, a movimentação cênica eram as mesmas, mas eu não era o mesmo, nem
a plateia. QUE DIFERENÇA!
AUÊ
é musical genuinamente brasileiro e originalíssimo. Posso garantir que nunca se
viu musical como este. Os sete cantores/atores/compositores/multi-instrumentistas
e o baterista nos cativam na primeira cena e só nos libertam com o coração
cheio de alegria e emoção no saguão do teatro onde o espetáculo definitivamente
termina.
AUÊ
não conta uma história, mas através das canções passamos pelas alegrias e dores
que o amor provoca. Há muita emoção no trágico e longo monólogo Doideira de Amor escrito e interpretado
por Eduardo Rios que remete tanto a Shakespeare como a Vicente Celestino. Ri-se
muito com algumas músicas (Vida Doida/Coco, Voa Borboleta) e a emoção
atinge seu máximo na triste canção final (Ali)
interpretada visceralmente por Renato Luciano:
“No canto da mágoa a dor de quem se foi
E o sol quarando a mágoa
A dor quarando a solidão”
Não
há como destacar este ou aquele intérprete. O elenco é harmonioso e poucas
vezes tem-se visto em nossos palcos tamanha unidade. O
grupo responde pelo sugestivo nome Barca
dos Corações Partidos.
Elenco, no sentido horário, a partir do primeiro ao alto, à esquerda: Ádren Alves, Alfredo Del Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios, Rick de la Torre, Renato Luciano, Rica Barros e Fabio Enriquez.
A
direção de Duda Maia aposta no talento e na versatilidade de seu elenco fazendo
os rapazes realizar complexa coreografia enquanto cantam e tocam. A troca de
instrumentos entre eles é um espetáculo à parte. A indicação de Duda Maia foi
mais que merecida.
AUÊ
está em cartaz no Teatro FAAP apenas até o dia 18 de dezembro e não tem
previsão de voltar ao cartaz em 2017, por isso CORRA, pois a emoção e a alegria
que ele provoca não são coisas que se encontram fácil por aí. Sessões às sextas e
sábados às 21h e domingos às 18h.
Esta
é uma matéria propositalmente apaixonada. Foi escrita ainda sob a forte emoção
de ontem e ao som das belíssimas canções do espetáculo.
A
vida anda dura, mas...
“Vai passar”
VIVA
O TEATRO!
10/12/2016
Faço minhas as suas palavras, Cetra. Também comentei este espetáculo no meu Instagram e não consegui ser desapaixonado.
ResponderExcluir