O
presente levantamento é feito a partir de dados obtidos em programas de peças
assistidas pelo autor e, principalmente, por informações constantes nos guias
de teatro da cidade de São Paulo. O estudo não contempla comédias stand up, teatro infantil e espetáculos
apresentados na periferia da cidade (estes últimos pela total falta de
informação sobre suas realizações). Os dados incluem estreias e reestreias
ocorridas no ano.
611
títulos de autores brasileiros estiveram em cartaz nos palcos da cidade no ano
de 2016. Os musicais (50) continuam a engordar a estatística, mas os dramas
(363) predominam seguidos de 165 comédias.
Rodolfo
García Vázquez foi o autor mais montado do ano com oito títulos em cartaz
(quatro deles a partir da obra do Marquês de Sade e três em parceria com Ivam
Cabral), seguido de Plínio Marcos com sete peças (remontagens de seus textos e
até uma inédita – O Bote da Loba-).
Com
cinco títulos: Caio Fernando Abreu (inclui adaptações de seus textos não
teatrais sem créditos para o adaptador), Cássio Pires, Luís Alberto Abreu,
Rodolfo Lima (inclui várias adaptações de textos de Caio Fernando Abreu),
Ronaldo Ciambroni e Wilson Coca.
Com
quatro títulos: Alexandre Dal Farra (inclui a Trilogia Abnegação), Franz
Kepler, Pitty Webo e Sérgio Roveri.
Com
três títulos: 21 autores (incluindo Nelson Rodrigues que neste ano, pela
primeira vez, não comparece entre os mais encenados)
Com
dois títulos: 49 autores
Com
um título: 436 autores. Neste caso tem-se mais uma vez muitos nomes que surgem
para desaparecer nos anos seguintes.
Dentro
desse vasto quadro o que, entre as estreias, a dramaturgia brasileira nos
ofereceu? Houve boas surpresas e a consolidação de nomes já conhecidos.
A
maior surpresa veio do Rio de Janeiro com Caranguejo
Overdrive de Pedro Kosovski, obra
rara e impactante que cumpriu curta temporada no Sesc Pinheiros.
O
Centro Cultural São Paulo foi palco de quatro importantes textos, três deles
apresentados na II Mostra de Dramaturgia
em Pequenos Formatos Cênicos (Hotel Jasmim de Cláudia Barral, O Teste de Turing de Paulo Santoro e o premiado Os Arqueólogos de Vinicius Calderoni). O belíssimo Um Berço de Pedras de Newton Moreno
completa a lista.
Abnegação 3 de Alexandre Dal Farra completou
a trilogia, mantendo a força e o impacto das suas antecessoras e inovando na
concepção cênica.
Rudinei
Borges nos brindou com dois excelentes trabalhos onde o texto é pautado por
poesia bastante particular: Dezuó e Epístola.40.
Não Contém Glúten de Sérgio Rovere
recebeu inventiva encenação de José Roberto Jardim revelando frescor e
originalidade para um corriqueiro encontro de casais.
Tiros em Osasco de Cássio Pires e Cachorro Enterrado Vivo de Daniela
Pereira de Carvalho são exemplos de textos perfeitos para ilustrar a violência
urbana. A segunda teve o mérito de revelar o ator Leonardo Fernandes para o
público paulistano.
Irresistível
para quem faz teatro e muito atraente para o público em geral foi O Grande Sucesso, texto de Diego Fortes
sobre um grupo de atores, eternos figurantes de grandes espetáculos.
Auê, também vindo do Rio de Janeiro, é uma irresistível criação coletiva do grupo Barca dos Corações Partidos cuja dramaturgia é calcada nas canções compostas pelo grupo que tratam das alegrias e tristezas provocadas pelas paixões humanas.
Auê, também vindo do Rio de Janeiro, é uma irresistível criação coletiva do grupo Barca dos Corações Partidos cuja dramaturgia é calcada nas canções compostas pelo grupo que tratam das alegrias e tristezas provocadas pelas paixões humanas.
Finalmente
um texto injustamente negligenciado nas indicações dos prêmios de 2016: Sínthia de Kiko Marques, que mais uma
vez soube dosar realidade/memórias e ficção criando material que, se não
supera, está à altura de sua obra prima (Cais
ou Da Indiferença das Embarcações).
São
13 títulos dentre os 611. E os outros 598?
Muita
comédia romântica com dicas para arranjar namorado, casais que se encontram e
se separam, todas as variações que a abreviação TPM pode oferecer, sogras de
uma família muito doida que têm uma empregada mais doida ainda (as inumeráveis
Olímpias que proliferaram após Trair e
Coçar É Só Começar que está em cartaz há 30 anos), gente que brinca com
sexo, etc e tal e come a pomba gira, alem de engolir sapo pra um dia comer
pereréca. Esse tipo de peça encontra seu público nos Teatros Ruth Escobar e
Maria Della Costa, espaços que tiveram dias de glória e de prestígio no passado
e também nos Teatros Bibi Ferreira, Gazeta, Folha, Brigadeiro e Santo
Agostinho.
Reestreias,
remontagens e outros títulos completam o vasto quadro da dramaturgia brasileira
nos palcos paulistanos que, se somarmos os espetáculos de autores estrangeiros,
tiveram perto de 1000 peças em cartaz neste ano que ora se finda.
Em
um ano particularmente infeliz para a história do Brasil o teatro soube
sobreviver e mostra fôlego para 2017.
Mais
do que nunca: VIVA O TEATRO!
18/12/2016
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