domingo, 18 de dezembro de 2016

DRAMATURGIA BRASILEIRA NOS PALCOS PAULISTANOS EM 2016


   


        O presente levantamento é feito a partir de dados obtidos em programas de peças assistidas pelo autor e, principalmente, por informações constantes nos guias de teatro da cidade de São Paulo. O estudo não contempla comédias stand up, teatro infantil e espetáculos apresentados na periferia da cidade (estes últimos pela total falta de informação sobre suas realizações). Os dados incluem estreias e reestreias ocorridas no ano.
        611 títulos de autores brasileiros estiveram em cartaz nos palcos da cidade no ano de 2016. Os musicais (50) continuam a engordar a estatística, mas os dramas (363) predominam seguidos de 165 comédias.
        Rodolfo García Vázquez foi o autor mais montado do ano com oito títulos em cartaz (quatro deles a partir da obra do Marquês de Sade e três em parceria com Ivam Cabral), seguido de Plínio Marcos com sete peças (remontagens de seus textos e até uma inédita – O Bote da Loba-).
        Com cinco títulos: Caio Fernando Abreu (inclui adaptações de seus textos não teatrais sem créditos para o adaptador), Cássio Pires, Luís Alberto Abreu, Rodolfo Lima (inclui várias adaptações de textos de Caio Fernando Abreu), Ronaldo Ciambroni e Wilson Coca.
        Com quatro títulos: Alexandre Dal Farra (inclui a Trilogia Abnegação), Franz Kepler, Pitty Webo e Sérgio Roveri.
        Com três títulos: 21 autores (incluindo Nelson Rodrigues que neste ano, pela primeira vez, não comparece entre os mais encenados)
        Com dois títulos: 49 autores
        Com um título: 436 autores. Neste caso tem-se mais uma vez muitos nomes que surgem para desaparecer nos anos seguintes.

        Dentro desse vasto quadro o que, entre as estreias, a dramaturgia brasileira nos ofereceu? Houve boas surpresas e a consolidação de nomes já conhecidos.
        A maior surpresa veio do Rio de Janeiro com Caranguejo Overdrive de Pedro Kosovski, obra rara e impactante que cumpriu curta temporada no Sesc Pinheiros.
        O Centro Cultural São Paulo foi palco de quatro importantes textos, três deles apresentados na II Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos (Hotel Jasmim de Cláudia Barral, O Teste de Turing de Paulo Santoro e o premiado Os Arqueólogos de Vinicius Calderoni). O belíssimo Um Berço de Pedras de Newton Moreno completa a lista.
        Abnegação 3 de Alexandre Dal Farra completou a trilogia, mantendo a força e o impacto das suas antecessoras e inovando na concepção cênica.
        Rudinei Borges nos brindou com dois excelentes trabalhos onde o texto é pautado por poesia bastante particular: Dezuó e Epístola.40.
        Não Contém Glúten de Sérgio Rovere recebeu inventiva encenação de José Roberto Jardim revelando frescor e originalidade para um corriqueiro encontro de casais.
        Tiros em Osasco de Cássio Pires e Cachorro Enterrado Vivo de Daniela Pereira de Carvalho são exemplos de textos perfeitos para ilustrar a violência urbana. A segunda teve o mérito de revelar o ator Leonardo Fernandes para o público paulistano.
        Irresistível para quem faz teatro e muito atraente para o público em geral foi O Grande Sucesso, texto de Diego Fortes sobre um grupo de atores, eternos figurantes de grandes espetáculos.
         Auê, também vindo do Rio de Janeiro, é uma irresistível criação coletiva do grupo Barca dos Corações Partidos cuja dramaturgia é calcada nas canções compostas pelo grupo que tratam das alegrias e tristezas provocadas pelas paixões humanas.
        Finalmente um texto injustamente negligenciado nas indicações dos prêmios de 2016: Sínthia de Kiko Marques, que mais uma vez soube dosar realidade/memórias e ficção criando material que, se não supera, está à altura de sua obra prima (Cais ou Da Indiferença das Embarcações).
        São 13 títulos dentre os 611. E os outros 598?

        Muita comédia romântica com dicas para arranjar namorado, casais que se encontram e se separam, todas as variações que a abreviação TPM pode oferecer, sogras de uma família muito doida que têm uma empregada mais doida ainda (as inumeráveis Olímpias que proliferaram após Trair e Coçar É Só Começar que está em cartaz há 30 anos), gente que brinca com sexo, etc e tal e come a pomba gira, alem de engolir sapo pra um dia comer pereréca. Esse tipo de peça encontra seu público nos Teatros Ruth Escobar e Maria Della Costa, espaços que tiveram dias de glória e de prestígio no passado e também nos Teatros Bibi Ferreira, Gazeta, Folha, Brigadeiro e Santo Agostinho.
        Reestreias, remontagens e outros títulos completam o vasto quadro da dramaturgia brasileira nos palcos paulistanos que, se somarmos os espetáculos de autores estrangeiros, tiveram perto de 1000 peças em cartaz neste ano que ora se finda.

        Em um ano particularmente infeliz para a história do Brasil o teatro soube sobreviver e mostra fôlego para 2017.
        Mais do que nunca: VIVA O TEATRO!



18/12/2016

         

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