Em
cenário onde dramaturgos aparecem e desaparecem como cometas com a encenação de
apenas uma obra, louve-se o surgimento de Carol Rainatto que no período de um
ano tem três textos encenados pela Cia.
do Ruído. Em 2016 foi a vez de Oito
Balas e Meia Noite, Feliz Natal e
agora Cerbera que completa a
trilogia. O que torna o fato mais louvável é a ousadia da autora em inovar
tanto no tema (a hipocrisia da classe média) como na forma (enquanto mantinha
certa linearidade em Meia Noite, Feliz
Natal, em Cerbera busca novos
caminhos criando cenas não cronológicas e abrindo o espetáculo com
significativos monólogos de cada uma das personagens, ouvidos de forma
estranha, mas que vão se esclarecendo à medida que a ação se desenvolve).
Cerbera
é planta altamente tóxica e venenosa. Ela é
considerada a arma do crime perfeito, pois o componente químico fica
indetectável após o envenenamento. Metáfora perfeita para as intenções da
peça.
Obsessões
ao alcance de todas as personagens parece ser o lema da dramaturga: Martin
(Rodrigo de Castro) é um rapaz introvertido que adora se travestir; sua mãe
Helena (Ynara Marson) é alcoólatra, apanha do marido e tem tendências
homossexuais; Paulo, o marido (Rodrigo Frampton) é meio tarado e coça o saco
permanentemente; Clara (Victoria Blat) é uma professora de piano reprimida que
assedia sexualmente o aluno Martin; finalmente Cecília (Carol Rainatto) é uma
garota fútil com tendências ninfomaníacas. São essas personagens que Carol põe
em cena de forma cruel para mostrar a falsa moral da classe média brasileira. Não
há dúvida que há um toque de Álbum de
Família de Nelson Rodrigues.
A
direção de Elias Andreato carrega na dramaticidade resvalando, propositalmente,
para o melodrama em muitos momentos. O cenário de Diogo Monteiro e os figurinos
de Ananda Sueyoshi reforçam a decadência das personagens.
Rodrigo de Castro, Ynara Marson, Carol Rainatto, Rodrigo Frampton e Victoria Blat
Victoria Blat empresta autoridade para
sua professora de piano e tem bons momentos nos embates com Helena,
interpretada por Ynara Marson. Rodrigo de Castro consegue mostrar as nuances de
sua personagem. Rodrigo Frampton não distingue os momentos de cólera com os de
sua obsessão por Cecília, algo que pode ser sanado ao longo da temporada.
Ousada também é a participação da autora como a garota Cecília, sua inflexão de
voz, a princípio estranha, depois se incorpora à tresloucada personagem.
CERBERA
está em cartaz no Espaço Parlapatões às quintas e sextas às 21h até 27 de outubro.
20/09/2017
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