Personagens
com perturbações mentais sempre proporcionaram memoráveis interpretações para
atores de talento, haja vista Rubens Corrêa em Diário de Um Louco (1965), todos os atores que representavam os internos
do hospício de Charenton em Marat-Sade
(1967), Dani Barros em Estamira (2012)
e no cinema Giulietta Masina como a inesquecível Gelsomina de La Strada (1954) de Fellini. Agora é a
vez de Cleide Queiroz brilhar com sua impressionante atuação em Palavras de Stela.
A
concepção deste espetáculo se assemelha àquela de Estamira. Tanto Dani Barros como Cleide Queiroz tiveram mães
psicóticas e as montagens mesclaram fatos da vida e do modo de ser das
personagens Estamira e Stela com acontecimentos vividos pelas atrizes. O
resultado em ambos os casos é impactante e comovente.
A
encenação de Elias Andreato está calcada apenas em dois pontos: a atriz e a
iluminação; esta última consegue captar situações diversas como os estados de
espírito de Stela e as cenas de eletrochoque. O desenho de luz é tão vital para
o espetáculo que só podia ter sido concebido pelo próprio diretor. Todos os
outros elementos de cena (cenário, figurinos, adereços e trilha sonora) colaboram
para o bom resultado final.
A
julgar pelos programas disponíveis Cleide Eunice (era assim seu nome artístico
na época) estreou profissionalmente em 1969 na montagem de Silnei Siqueira para
Morte e Vida Severina produzida e
interpretada por Paulo Autran (não confundir com aquela do TUCA em 1965).
Foto do programa de Morte e Vida Severina (1969)
A
presença de Cleide não foi muito constante nos palcos paulistanos nesses quase
50 anos, sendo que seu trabalho mais lembrado e importante foi a Joana de Gota D’Água (2001) dirigida por Gabriel
Villela. Em Palavra de Stela a atriz
tem oportunidade de mais uma vez mostrar todas as nuances de seu imenso talento
alternando momentos de quase ferocidade com outros de calmaria mostrando assim
a instabilidade emocional de Stela do Patrocínio. Dona de bela e potente voz
Cleide se dá ao luxo de nos comover por duas vezes ao cantar Estrela do Mar que ela traduz ao final
para “Stela do ar”, fazendo lembrar outra “louca” chamada Ismênia, imortalizada
no poema de Alphonsus de Guimaraens: Sim! Cleide, apesar de seu corpo, flutua divinamente
no belo espaço criado por Mira Haar. Uma das grandes interpretações do ano!
PALAVRA
DE STELA está em cartaz até 29/10 no Teatro Núcleo Experimental às sextas
(21h30), sábados (21h) e domingos (19h).
Ah!
O programa é lindo, com ilustrações de Roberto Alencar e simpáticos
agradecimentos a Artaud, Castro Alves e Fernando Pessoa, entre outros.
24/09/2017
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