Um
palco nu. Três atrizes vestidas discretamente com macacões, elas têm longos
cabelos loiros e olhos claros como convém a intérpretes de personagens russas. Essas
três mulheres vão nos relatar durante pouco mais de uma hora como era a vida
das mulheres russas que foram combater na segunda guerra conforme o livro homônimo
de Svetlana Aleksiévitch, escritora premiada com o Prêmio Nobel. A
originalidade tanto do livro como do espetáculo é o olhar feminino sobre
assunto sempre tratado e mostrado sob o ponto de vista dos homens. No meio de
tantas atrocidades bélicas, elas chegam a sentir falta do uso de calcinhas, uma
vez que o uniforme continha roupas íntimas pouco femininas.
Louve-se
em primeiro lugar a inteligente adaptação teatral do livro feita pelo elenco e
pelo diretor Marcello Bosschar.
A
direção vale-se da bela iluminação de Aurélio de Simoni; da sua escolha da
trilha sonora que vai desde dance music até uma envolvente música de Philip
Glass (epílogo da ópera Kepler,) que
ilustra uma das cenas mais fortes do espetáculo e , é claro, do elenco:
Carolyna
Aguiar, Luisa Thiré e Priscilla Rozenbaum revezam-se com muito talento ao
interpretar/narrar as vivências de cerca de trinta mulheres que, num primeiro
momento, levadas por seu patriotismo querem ir para a guerra e depois sofrem e
testemunham os horrores dos campos de batalhas. O programa fornece o nome
dessas mulheres.
De
qualquer maneira, apesar de falarem muito sobre a morte, elas são sobreviventes
e louvam a vida. E a peça termina com essa louvação em uma bela coreografia
assinada por Carolyna Aguiar.
Mais
uma vez temos prova dos bons e sérios trabalhos oriundos do Rio de Janeiro.
Pelo
tema tratado e pela interpretação visceral das três atrizes, A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, é
espetáculo obrigatório.
Em
cartaz no Teatro FAAP às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 18h até
17/12.
12/11/2017
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