Em
1967 os Beatles proclamavam ao mundo: “All
You Need Is Love”! É embalado nessa
música que o casal Sandra e Kenneth, personagem do inglês Mike Bartlett,
inicia e termina a peça Love, Love, Love. A trama foca o casal em 1967
e depois com dois filhos em 1990 e 2014. Muitos sentimentos surgem na relação
desses quatro personagens: tesão, indiferença, egoísmo, inveja, ressentimento,
ódio e até compaixão. Tudo! Menos o “love”
do título. O texto é bastante cruel ao mostrar embate entre pares e entre
gerações onde ninguém sai ileso. Não há culpados, nem inocentes ao mesmo tempo
em que todos têm alguma razão para agir do modo que agem. O texto que remete ao
teatro de Edward Albee é muito bem construído, apesar de mostrar certa inverossimilhança
no comportamento do casal central ao longo do tempo (ao meu modo de ver aqueles
dois jovens hippies dificilmente se tornariam aqueles adultos dos anos
seguintes).
Acertadamente
Eric Lenate realiza sóbria direção que enfatiza o trabalho dos atores sem os
arrojos criativos na concepção cenográfica que lhe são tão caros, mas que não
caberiam nesse tipo de texto. Essa criatividade do diretor aflora nas mudanças
de um período para o outro quando a contrarregragem feita pelos atores na
mudança do cenário e dos objetos de cena assume ares de uma dança coreográfica.
Os figurinos de Fábio Namatame e as perucas utilizadas, assim como, a trilha
sonora de L.P. Daniel ajudam a caracterizar os personagens no decorrer do tempo
transcorrido na peça (47 anos).
Para
bom resultado, texto desse tipo necessita de elenco afiado e talentoso e esse
absolutamente não foi empecilho para o sucesso desta montagem. Mateus Monteiro
tem uma breve, mas significativa aparição na primeira cena (1967) como Henry
que perde a namorada Sandra para o irmão Kenneth. Alexandre Cioletti é uma
grata surpresa como o hippie tresloucado Kenneth em 1967 e como o filho
aloprado de Kenneth e Sandra em 1990 (ele tem cena antológica na abertura desse
ano) e 2014. Augusto Madeira é o pai yuppie Kenneth em 1990 e 2014 dosando
muito bem o cômico e o dramático do personagem. Todos têm momentos brilhantes na
encenação, mas aqueles mais luminosos ficam por conta de Débora Falabella como
a louquinha Sandra com 19 anos em 1967 e depois como sua filha (adolescente
rebelde em 1990 e adulta frustrada em 2014) e mais que nunca de Yara Novaes que
interpreta a inconsequente mãe Sandra aos 42 anos e aos 66 anos. Yara é
responsável pelos momentos mais tensos e os mais cômicos do espetáculo, dando
um verdadeiro show de interpretação,
sendo plenamente justificados os prêmios que vem recebendo por este trabalho.
A
montagem é uma realização do Grupo 3 de Teatro que tem em sua consistente
“folha de serviço” os espetáculos A Serpente, O Continente Negro, O Amor e
Outros Estranhos Rumores e Contrações
(do mesmo autor deste Love. Love. Love).
Com
mais “love” talvez possamos criar
famílias menos disfuncionais do que a mostrada nesta tragicomédia.
LOVE,
LOVE, LOVE está em cartaz no Teatro Vivo até 27/05 às sextas (20h), aos sábados
(21h) e aos domingos (18h). NÃO DEIXE DE VER!
29/03/2018
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