Texto
bem comportado do dramaturgo canadense Daniel MacIvor, do qual já vimos os
menos convencionais In On It, A Primeira Vista e Cine Monstro. Neste
caso as personagens são bem definidas e a história tem ação linear com perfeita
definição de tempo e lugar, algo explicitado pela direção em uma tela de TV que
faz parte do espaço cênico.
A
trama principal é a relação de três irmãs que se encontram devido à eminente
morte da mãe. Há uma subtrama que trata da relação de uma delas com a filha que
teve de abandonar quando nasceu por imposição da mãe e o bebê foi adotado por
outra família. Os modos de ser e viver muito distintos das três irmãs movem os
conflitos surgidos durante o tempo em que se passa a ação. A ponte do título
fica em lugar “paradisíaco” imaginado por elas (a Moscou das três irmãs de
Tchekhov) onde fizeram piquenique quando eram jovens. Nesse local se passa a
última cena da peça; todas as outras cenas acontecem na cozinha da casa, toda
decorada em vermelho, o que dá belo efeito para o cenário assinado pelo diretor
Adriano Guimarães e Ismael Monticelli. Seria a cor vermelha opção da direção ou
faz parte das rubricas do autor.
Bel Kowarick, Debora Lamm e Maria Flor
Bel
Kowarick, envelhecida para o papel da freira Tereza, atua de forma natural e
contida ficando a explosão histriônica e até cômica para a personagem Agnes,
muito bem defendida por Debora Lamm. Maria Flor tem voz pequena e estridente,
mas se sai bem como a caçula e “estranha” Louise.
A
peça em dois atos tem duração de 120 minutos. Cada ato tem seis cenas e cada
personagem tem um longo monólogo que é dirigido diretamente ao público com as
luzes da plateia acesas.
Trata-se
de espetáculo bastante delicado dirigido sobriamente por Adriano Guimarães
(desta vez sem seu irmão e parceiro de tantos outros espetáculos) e focado,
sabiamente, no trabalho das três atrizes.
Enquanto
algumas montagens respondem com a mesma moeda, tem-se notado outra tendência que
é enfrentar estes tempos agressivos e truculentos com poesia e delicadeza, haja vista este espetáculo e também O Jardim das Cerejeiras, Sob o Céu de Rubem
Braga, Quando ismália Enlouqueceu e
Meu Quintal É Maior do Que o Mundo
para ficar apenas em trabalhos que estrearam este ano nos palcos paulistanos. Tudo
vale a pena, quando a “arte” não é pequena, poderia dizer Fernando Pessoa.
A
PONTE está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil às sextas, sábados e
segundas ás 20h e aos domingos ás 18h até 25/03. Sessões extras em 21 e 28 de
fevereiro e 07 de março (quintas, 20h).
Fotos de Flávia Canavarro.
02/02/2019
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