E assim os Satyros
vão se reinventando. Desta vez temos uma peça que tem estrutura narrativa sem
atores criada por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez que vai sendo recheada
por depoimentos dados pelos espectadores. A condutora da trama é uma máquina
que tem a difícil missão de equilibrar o fio condutor proposto pela dramaturgia
com os relatos vindos dos espectadores aos quais ela tem que reagir. Ao dar voz
ao público os nossos caros Satyros parecem dizer: a peça para salvar o
mundo está em suas mãos!
A inovação de Ivam e
Rodolfo não está só na forma, mas também no conteúdo: depois de muitos
trabalhos calcados nos habitantes do entorno (A Vida na Praça Roosevelt
e a série Pessoas), nas questões de gênero e no futuro distópico (a
maioria dos últimos trabalhos virtuais), eles procuram uma luz no fim do túnel
com a colaboração do público. Isso não é pouco. Saímos de Uma Peça Para
Salvar o Mundo muito emocionados e com a sensação que colaboramos para essa
sensação coletiva de esperança que o espetáculo provoca.
Há muita humanidade
na relação da máquina com os espectadores entrevistados e isso se deve também à
dramaturgia, mas principalmente, à interpretação de Thiago Mendonça. Apesar de
estar com uma máscara e de manter uma entonação de voz propositalmente
monocórdica, a máquina reage sorrindo, se emocionando, se indignando e se
relacionando com o entrevistado. E tudo isso contando apenas com sua face
mascarada e a voz. Thiago conduz com brilho o espetáculo e sua Aparecida ficará
para sempre na lembrança de quem teve o privilégio de conviver um pouco com
ela, mesmo que tenha sido de forma virtual. Na sessão a que assisti houve quem
propusesse que ela se candidatasse a presidente do Brasil! Garanto que seria
uma ótima opção diante do escandaloso quadro político que temos à disposição
neste pobre Brasil.
No meu modo de ver Uma
Peça Para Salvar o Mundo pode ser colocada ao lado de grandes momentos dos Satyros
como A Filosofia na Alcova (2003), A Vida na Praça Roosevelt
(2005), Roberto Zucco (2010), Hipóteses Para o Amor e a Verdade
(2010), Pessoas Sublimes (2016), Todos os Sonhos do Mundo (2019)
e A Arte de Encarar o Medo (2020), todas elas dirigidas pelo incansável
Rodolfo García Vázquez. Ressalto que esta lista é puramente pessoal.
Como escrevi acima, Uma
Peça Para Salvar o Mundo respira humanidade e é um verdadeiro antídoto para
o veneno que somos obrigados a engolir nestes tempos sombrios e vem se somar a
muitos bons momentos que o teatro virtual tem nos oferecido nestes primeiros
meses de 2021.
Temporada até 17/05
com sessões às sextas, sábados e segundas às 19h e domingos às 16h. Gratuito.
Retirada de ingressos: www.sympla.com.br/espacodigitaldossatyros
IMPERDÍVEL!
03/05/2021
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