sábado, 8 de julho de 2023

FEST KAOS III

 

UMA NOITE SUBLIME EM CUBATÃO

Na noite de ontem (07/07/2023) foi a vez do Grupo Matula Teatro de Campinas se apresentar com o espetáculo Como Se Fosse, cuja dramaturgia assinada pelo grupo,  foi escrita a partir da peça Como Si Fuera Esta Noche (2002) de autoria da dramaturga andaluza Gracia Morales (1973-). Note-se que o título original explicita a transitoriedade do tempo presente na obra.

Mãe e filha agem e interagem em tempos diferentes revelando uma trama que evidencia a violência sofrida por mulheres em casa, no trabalho e nas ruas.

Na bela cena dos varais as atrizes incluem dados de uma pesquisa brasileira sobre o número de mulheres que sofrem violência, na maioria das vezes pelas mãos do próprio companheiro.

O espetáculo de Verônica Fabrini é exemplar ao harmonizar texto (Matula), cenografia, adereços e iluminação (Eduardo Albergaria), trilha sonora (Dudu Ferraz), figurinos (Anna Kühl), tudo isso coroado pelas soberbas interpretações das atrizes Alice Possani e Erika Cunha que se revezam nos papeis da mãe e da filha.

Alice Possani

Erika Cunha

A delicadeza que irá permear todo o espetáculo, apesar do tema tratado, já se evidencia na bela cena inicial onde a mãe, desta vez a cargo de Erika Cunha, dança e cantarola uma suave versão gravada de Besame Mucho.

Em seguida a filha adulta (Alice Possani), e já com a mãe morta, entra em cena e por meio do celular discute com Raul, que parece ser o seu companheiro; simultaneamente, do outro lado do espaço cênico, a mãe fala ao telefone fixo com uma freguesa de costuras. Por meio desse jogo com os telefones se estabelece para o espectador a transitoriedade do tempo que irá permear toda a obra.

A troca de papeis acontece logo depois e a química entre as duas atrizes é tão poderosa que o que se vê em cena é semelhante a uma partitura musical, onde notas musicais se juntam para resultar numa magnífica sinfonia.

Como Se Fosse, em sua simplicidade aparente, é espetáculo complexo e belo, fazendo uma contundente denúncia contra a violência.

Após a apresentação e com base nos relatos dos jovens espectadores presentes, Erika Cunha falou sobre a Lei Maria da Penha e de maneira contundente apelou para que as pessoas se unam contra qualquer tipo de violência neste Brasil de 2023, tão diferente e ao mesmo tempo tão parecido, com a Espanha de 2002 retratada por Gracia Morales.

Viva o Teatro que nos permite refletir sobre os problemas que afligem os humanos! 

08/07/2023

 

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