O Sobrevento
reinventa os tempos de delicadeza
Parafraseando o Seu
Bertolt: Eu vivo nas cidades nos tempos de guerra, insegurança e violência. Eu vivo
num tempo sem sol.
As pessoas andam
tristes, cabisbaixas e olhando para o próprio umbigo em um individualismo
assustador.
Mais ou menos nesse
estado de espírito percorrendo de Uber essa cidade da qual restará apenas o
vento que por ela perpassa (olha o Brecht de novo) chega-se ao aconchegante Espaço
Sobrevento que fica muito perto do tenebroso templo de Salomão.
Crianças circulam
brincando na frente do teatro e um público bastante simples aguarda o início do
espetáculo Para Mariela, concebido, dirigido e interpretado pelo casal
fundador do grupo há 38 anos, Sandra Vargas e Luiz André Cherubini.
O espaço cênico foi
reformulado para o espetáculo: a plateia fica em volta de uma plataforma
retangular coberta de areia que será o cenário do espetáculo.
Os atores vestindo
macacões, no bolso dos quais vão tirando objetos que farão parte da cena,
iniciam histórias que rememoram a infância passada na zona rural de um país.
Boa parte dessas histórias foi recolhida pelo grupo com as crianças bolivianas
que moram nas imediações do teatro. Ao formatar casinhas com a areia da
plataforma eles vão construindo uma cidade em clima que lembra uma atmosfera
tchekoviana com longos silêncios e gestos lentos. Cabe notar que a grande
quantidade de crianças presentes acompanha as cenas com muita atenção e em
silêncio.
Os mais variados objetos
vão surgindo em cena, material extremamente lúdico cuja manipulação é uma
característica do teatro de objetos do Sobrevento.
Em clima nostálgico
um homem comenta sobre a vontade de ver o mar que inexiste na Bolívia, o grupo
canta uma canção enquanto há um desfile de objetos que podem ser encontrados no
mar.
De repente, explode
uma canção boliviana que vira o jogo do clima silencioso e meditativo para um clima
de festa com desfile de máscaras e tipos do folclore bolivariano. A
participação das crianças da plateia é a coisa mais emocionante desse momento
que cada um de nós sente um lampejo de esperança no futuro.
Certas cenas da peça me lembraram o bonito texto de Eduardo Galeano sobre um menino que não conhecia o mar e foi com o pai até ele. Ao chegar o menino deslumbrado com aquela magnitude e beleza olhou para o pai e disse: “Por favor pai, me ajude a olhar.” E é isso que o espetáculo faz, nos ajuda a sentir a vida com mais paciência e mais esperança. Viva o Sobrevento!
PARA MARIELA está em cartaz de sexta a segunda às 20h até 14 de outubro. Ingressos grátis - reservas no email: info@sobrevento.com.br
29/09/2024
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