domingo, 9 de março de 2014

VIVA A RUTH ESCOBAR – A volta dos festivais de teatro em São Paulo


     Teve início ontem à noite no Auditório Ibirapuera a 1ª MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo). A abertura apresentada por Beth Coelho contou com a presença dos organizadores do evento (Antonio Araújo e Guilherme Marques), de representantes do Sesc e do Itaú Cultural, assim como de representantes da área de cultura do governo (ministra e secretários municipal e do estado). Por mais de uma vez foi lembrado (e ovacionado) o nome de Ruth Escobar, criadora de oito inesquecíveis festivais internacionais de teatro em São Paulo de 1974 a 1999, boa parte deles realizada durante a ditadura militar onde a todas dificuldades de produção somavam-se a censura e a dificuldade em conseguir vistos para certos grupos estrangeiros. Ruth foi uma guerreira e trouxe ao conhecimento do público brasileiro grupos e nomes importantes do teatro mundial. Foram necessários 15 anos para que a cidade voltasse a ter um festival de tal porte. Os organizadores em suas falas indicam a seriedade do evento e já têm a data da realização da 2ª MITsp em 2015. Longa vida à MITsp e o público de teatro agradece. Por falar em público, o mesmo compareceu em grande quantidade e mais de 1000 pessoas tiveram que infelizmente voltar para a casa sem ver o espetáculo que era gratuito (todo o evento tem ingressos gratuitos).
 
     O espetáculo que abriu a mostra foi Sobre o Conceito de Rosto no Filho de Deus, encenação do italiano Romeo Castellucci para a companhia Societas Raffaello Sanzio. Visualmente impactante desde o cenário extremamente limpo e branco que vai aos poucos se tingindo de excremento humano, passando pela cena do apedrejamento da imagem do rosto de Cristo pelas crianças e culminando com a transformação da imagem do rosto e a frase “Você (não) é o meu pastor”. Tudo isso pontuado por trilha sonora extremamente rigorosa e eletrizante.
 
      A peça trata dialeticamente da devoção a Jesus e ao cristianismo (tema caro a um país católico como a Itália). Reverenciado na primeira cena pelo filho desesperado que procura a sua imagem em busca de amparo para seus problemas, o Cristo é atacado por seres presumivelmente inocentes (as crianças) para no final ser questionado: “O senhor é (ou não é) o meu pastor?”.
     Na sua simplicidade e por meio de uma pequena trama (um filho às voltas com a incontinência fecal do pai) a peça questiona questões importantes como velhice (lembrei-me do filme Nebraska), fé e devoção. Não é pouca coisa.
 
     Aguardemos agora os novos espetáculos do MITsp e que sejam tão provocativos quanto este.

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