Teve início ontem à noite no Auditório Ibirapuera a 1ª MITsp
(Mostra Internacional de Teatro de São Paulo). A abertura apresentada por Beth
Coelho contou com a presença dos organizadores do evento (Antonio Araújo e
Guilherme Marques), de representantes do Sesc e do Itaú Cultural, assim como de
representantes da área de cultura do governo (ministra e secretários municipal
e do estado). Por mais de uma vez foi lembrado (e ovacionado) o nome de Ruth
Escobar, criadora de oito inesquecíveis festivais internacionais de teatro em
São Paulo de 1974 a 1999, boa parte deles realizada durante a ditadura militar
onde a todas dificuldades de produção somavam-se a censura e a dificuldade em
conseguir vistos para certos grupos estrangeiros. Ruth foi uma guerreira e
trouxe ao conhecimento do público brasileiro grupos e nomes importantes do
teatro mundial. Foram necessários 15 anos para que a cidade voltasse a ter um
festival de tal porte. Os organizadores em suas falas indicam a seriedade do
evento e já têm a data da realização da 2ª MITsp em 2015. Longa vida à MITsp e
o público de teatro agradece. Por falar em público, o mesmo compareceu em
grande quantidade e mais de 1000 pessoas tiveram que infelizmente voltar para a
casa sem ver o espetáculo que era gratuito (todo o evento tem ingressos
gratuitos).
O espetáculo que abriu a mostra foi Sobre o Conceito de Rosto no Filho de Deus, encenação do italiano
Romeo Castellucci para a companhia Societas
Raffaello Sanzio. Visualmente impactante desde o cenário extremamente limpo
e branco que vai aos poucos se tingindo de excremento humano, passando pela
cena do apedrejamento da imagem do rosto de Cristo pelas crianças e culminando
com a transformação da imagem do rosto e a frase “Você (não) é o meu pastor”.
Tudo isso pontuado por trilha sonora extremamente rigorosa e eletrizante.
A peça trata dialeticamente da devoção a Jesus e ao
cristianismo (tema caro a um país católico como a Itália). Reverenciado na
primeira cena pelo filho desesperado que procura a sua imagem em busca de
amparo para seus problemas, o Cristo é atacado por seres presumivelmente
inocentes (as crianças) para no final ser questionado: “O senhor é (ou não é) o
meu pastor?”.
Na sua simplicidade e por meio de uma pequena trama (um filho às voltas com a incontinência fecal do pai) a peça questiona questões importantes como velhice (lembrei-me do filme Nebraska), fé e devoção. Não é pouca coisa.
Aguardemos agora os novos espetáculos do MITsp e que sejam tão provocativos quanto este.
Pessoas com a força, o foco e a paixão de Ruth Escobar fazem muita falta.
ResponderExcluirParabéns ao MITsp e aos seus comentários. Vida longa ao Teatro Brasileiro!
ResponderExcluirVIVA!!
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