Rita Grillo - Foto: Micaela Wernicke
Quando
fiz a lista do que considerei o melhor e o pior do teatro em São Paulo em 2016,
listei também aqueles espetáculos que julgava importantes e que não tive
oportunidade de ver. Entre eles aparece Vermelho
Labirinto que cumpriu temporada de um mês no Sesc Pinheiros no início do
ano.
Neste
final de semana a peça está fazendo temporada relâmpago no Teatro Pequeno Ato.
Fui vê-la e confesso-me surpreso pela pouca repercussão obtida pelo espetáculo
na ocasião.
A
começar pelo texto de Pedro Granato a montagem é surpreendente. Dividida em 14
cenas a peça mostra duas mulheres de atividades antagônicas (uma advogada e uma
performer) que de alguma maneira se relacionam com um crítico de arte. A
primeira é esposa dele e a segunda foi entrevistada, jantou e provavelmente
transou com ele. Está formado o triângulo, mas sabiamente Granato não põe o
homem em cena e instaura uma batalha entre as duas mulheres que só vão se
encontrar na última cena. A peça foi escrita e montada no auge da crise do
governo Dilma e do seu impeachment,
ocasião onde usar vermelho significava ser inimigo dos “coxinhas tucanos”. Se
isso pode parecer um pouco datado, o ódio entre pessoas de ideias antagônicas
só cresceu e a mentira e a hipocrisia tomam proporções muito bem metaforizadas
nas derradeiras palavras de Vermelha (a performer) para Esther (a advogada):
“Mente!”. (Quem quiser saber o significado poderoso disso, precisa assistir à
peça). Há também uma subtrama que envolve a relação da advogada com político
envolvido em escândalo (provavelmente de corrupção).
Anna Zêpa - Foto: Bob Sousa
Granato
também dirige o espetáculo interpretado por duas excelentes atrizes: Anna Zêpa
interpreta Vermelha com sensualidade e tem dois grandes momentos; o primeiro
quando dá entrevista para o crítico e o segundo no embate final com Esther.
Rita Grillo brilha como a reacionária Esther que quer defender seu homem com
garras de leão, mas não passa de uma frágil gata. Depois da visceral Marguerite
Duras em A Dor, Rita tem outra grande
interpretação e é responsável pelos momentos mais engraçados da montagem,
quando não entende as palavras intelectuais contidas nas críticas do marido e
quando fala com ele pela câmera do notebook.
A
montagem tem na verdade uma terceira personagem: a luz de Aline Santini que
comenta toda a ação e embeleza o sóbrio cenário de Sinhá que começa alvo como
neve e termina manchado com todas as devolutivas (corpóreas ou não) das duas
personagens.
Vermelho Labirinto tem trama complexa
sujeita a muitas interpretações, porém é muito agradável de ver e riso
inteligente, nunca é demais repetir, conduz à reflexão. Algo fundamental nos
sombrios dias do presente.
Ainda
dá tempo: última apresentação hoje (dia 29) no Teatro Pequeno Ato à Rua Teodoro
Baima, 78. Às 19 horas.
29/01/2017
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