Teena
Brandon nasceu do sexo feminino, mas tinha todas as características, sensações
e comportamentos de um homem. Rejeitada pela família e pela sua cidade, muda-se
adotando o nome de Brandon Teena e leva a vida como homem até ser descoberta
pelo amigo de sua namorada e ser assassinada por ele. Esse fato ocorrido nos
Estados Unidos é só um trágico exemplo do que já aconteceu e ainda acontece em
qualquer outro lugar onde o ódio homofóbico está presente. O filme de 1999 Meninos Não Choram (Boys Don’t Cry) de Kimberly Peirce baseou-se nesse assunto com
interpretação memorável de Hilary Swank que lhe valeu o Oscar daquele ano.
Tema
tão urgente e importante em país que só se diz tolerante com a diversidade, mas
que mostra a verdadeira face preconceituosa em muitas ocasiões merecia visita
de um dramaturgo brasileiro e Rafael Primot o fez: Uma Vida Boa é sua versão da triste trajetória de um homem em corpo
de mulher.
Amanda
Mirásci carrega o espetáculo nas costas: sua entrega a personagem tão complexa
é total. Sempre se equilibrando em certa delicadeza (que poderia soar como
feminina) e a virilidade sempre exteriorizada pelos machões de plantão, Amanda
nos dá comovente retrato do que se passa no interior daquela complexa criatura.
Tanto
a autoria como a direção (Diogo Liberano) são tímidas parecendo não querer por o
dedo em ferida tão profunda. Os assuntos são tratados de maneira superficial,
assim como os personagens secundários (a namorada e o amigo) interpretados de
maneira também superficial e exteriorizada por Daniel Chagas e Julianne
Trevisol. Sendo assim resta a interpretação de Amanda para dar conta de assunto
tão sério sobre uma vida absolutamente nada boa!
Escrevi
há alguns dias sobre RACE: “Nesses tempos
onde o ódio e a intolerância parecem dominar as relações entre as pessoas, a
peça mais que necessária é OBRIGATÓRIA”. Afirmo o mesmo para UMA VIDA BOA.
Na primeira tratava-se da questão racial, na segunda trata-se da questão de
gênero aonde o preconceito e a intolerância conduzem ao limite do extermínio da
vítima: um rapaz em corpo de mulher. Pela urgência do tema e pela atuação
pungente e corajosa de Amanda Mirásci, vale a pena conferir o espetáculo em
cartaz no Teatro Eva Herz às quintas e sextas às 21h até 26/05.
09/05/2017
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