domingo, 27 de agosto de 2017

ESPERANDO VISITAS



PREÂMBULO:
        Considerando o ano de 2017 até agosto, em média, aconteceram em São Paulo 57 estreias e reestreias de peças de autores nacionais por mês. Um total de 456 títulos entrou em cartaz na cidade, sem considerar espetáculos de autores estrangeiros, stand ups, teatro infantil e títulos que não constaram dos guias de teatro (fontes de dados para esta pesquisa). O número de espetáculos ao mês se mantém constante (cerca de 160), isso indica que há uma rotatividade de 57 dramaturgos nacionais ao mês. Sendo mais claro: se estreiam 57, despedem-se de cena também 57. Essa pesquisa que remonta a 1990 também indica que a maioria dos autores aparece uma única vez, desaparecendo depois ou por falta de novas oportunidades ou porque não tinha muito a dizer.
        No perverso sistema atual grande parte dos espetáculos tem a possibilidade de se apresentar apenas uma ou no máximo duas vezes por semana o que ocasiona grande dificuldade de concentração e aquecimento, principalmente para os atores.

A PEÇA:
        É nesse cenário que se inscreve a peça Esperando Visitas, em cartaz apenas às quintas feiras no Viga Espaço Cênico. Eu já havia apreciado as qualidades do texto de Fernando Magalhães Rangel quando fui júri do Concurso de Dramaturgia do Instituto Capobianco que classificou essa obra entre o que julgou serem os dez melhores trabalhos enviados. Os diálogos muito bem estruturados, o bom português e o jogo de não revelar quem está com a verdade deixando as conclusões e reflexões para o espectador são, a meu ver, as grandes qualidades do texto, tendo apenas um salto dramatúrgico que soa artificial quando a protagonista Margarete revela o verdadeiro motivo do seu convite a Torquato, o outro personagem da peça. O texto tem muitos pontos em comum com aqueles de Edward Albee.
        Esse jogo de palavras às vezes nostálgico e quase sempre agressivo e rancoroso é bem defendido   pelos atores Denise Machado e Fábio D’Arrochella. Denise transita muito bem entre a arrogância da mulher bem sucedida nos negócios e a fragilidade de alguém que tem algo sério a revelar. D’Arrochella defende seu Torquato com um bem vindo toque de humor e sabe tirar partido dos silêncios e das reações ao ouvir a sua interlocutora, assim como das reações violentas que seu personagem tem em certos momentos.
        A direção de Zeca Sampaio é sóbria valendo-se da atuação dos atores, do belo cenário em branco e preto estilizando a frieza de uma cidade grande e da iluminação que não só ilustra os sentimentos das personagens em determinados momentos, como separa suavemente os três curtos atos em que a peça foi dividida. Cenário e iluminação são de autoria do encenador.
        Os figurinos foram criados pela atriz Denise Machado. O da atriz segue a linha branco e preto do ambiente e o do ator tem certo ar relaxado próprio do seu personagem.
        A peça deve sair de cartaz nesta semana e por seus méritos merece uma segunda temporada na cidade, quem sabe dando uma chance aos atores de representar mais do que uma vez por semana.

27/08/2017


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