terça-feira, 16 de junho de 2020

FOFOS, QUE SAUDADES!



 
        Foi em 1992 na UNICAMP que se plantou a semente desses fofos; constavam do grupo, entre outros, Carol Badra, Stella Tobar e Newton Moreno.
        O primeiro texto de Newton Moreno (Deus Sabia de Tudo... ) estreou em um ingrato horário da meia noite no TUSP em 2001, mas só foi acontecer em 2003 quando cumpriu temporada no Teatro Sérgio Cardoso; nesse mesmo ano com a chegada de Fernando Neves iniciam-se as pesquisas em circo teatro e eles montam A Mulher do Trem.
        Tudo isso para mim é história, pois até então eu não conhecia o trabalho dos Fofos.

        Em 2005, o grupo pesquisa a obra de Gilberto Freyre e encena sob a direção de Newton Moreno Assombrações do Recife Velho. A peça estreia no final de agosto e em outubro a peça estava em cartaz no Belvedere, casarão semi abandonado na Rua Pedroso e foi lá que eu vi os Fofos pela primeira vez. A encenação fazia com que o público (cerca de apenas 30 pessoas) circulasse pelas dependências do local e o elenco - simpaticíssimo - em muitos momentos interagia com os espectadores. Em uma cena que acontecia no quintal o Seu Antonio entabulou uma gostosa conversa comigo que guardo até hoje como um daqueles instantes mágicos que só o teatro pode oferecer. Anos depois sempre que nos encontramos, lembramos desse dia: o Seu Antonio é o Marcelo Andrade, o primeiro fofo que me conquistou!
         No ano seguinte, o grupo participou do FIT (Festival Internacional de Teatro) de Rio Preto e fez apresentações antológicas de Assombrações à meia noite em uma casa enorme que no passado foi um hospício, essa casa localizada em um descampado foi o melhor cenário que essa peça já teve. Nas andanças pelo FIT conheci todo o restante do grupo e pude comprovar a razão do nome deles: FOFOS! A foto abaixo mostra um momento desse encontro.
 

        A partir daí não perdi mais nenhum espetáculo do grupo: Ferro em Brasa (de 2006 a que assisti em 2007 no Teatro Arthur Azevedo).
        Em 2007 o grupo inaugura o seu espaço na gostosa Rua Adoniran Barbosa, travessa da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e ali cria ambiente extremamente aconchegante que abrigava a sala de espetáculos e uma gostosa sala de espera com um bar onde os atores que não estavam no elenco do espetáculo em cartaz preparavam pratos da mesma região em que se passava a peça. Comia-se, tomava-se um bom vinho ou uma cerveja e depois se partia para o espetáculo. Os Fofos faziam o melhor acolhimento que se tem notícia nos teatros de São Paulo.
 
 
 

        Em 2008 estive pela primeira vez no Espaço Os Fofos Encenam e tive o privilégio de assistir em uma mesma noite A Mulher do Trem (às 21h) e Deus Sabia de Tudo... (à meia noite). Puro deleite.
        Seguiram-se Memória da Cana (2009) e Terra de Santo (2012), ambas de autoria de Newton Moreno.
        2013 foi o ano do Baú da Arethuzza, coordenado e dirigido por Fernando Neves, voltado para o circo teatro, gênero bastante familiar a Neves. Segundo o grupo “Nesta pesquisa, os Fofos Encenam se propõem a investigar a evolução da teatralidade circense – cenografia, dramaturgia e interpretação - durante o período de 1910 a 1950, a partir da realização de cinco montagens.
 

        A cada mês estreava uma das montagens e no período que uma estava em cartaz o grupo ensaiava a seguinte.
 
        - Antes do Enterro do Anão – Pantomina
        - Vancê Não Viu Minha Fia? – Burleta caipira
        - A Ré Misteriosa – Melodrama policial
        - A Canção de Bernardete – Melodrama religioso
        - Dar Corda Para Se Enforcar – Chanchada

        E para coroar esse delicioso projeto o grupo reprisou a impagável A Mulher do Trem que me fez ressuscitar a frase “rir a bandeiras despregadas” na matéria que escrevi sobre a peça.
        Foi um período extremamente rico tanto para o grupo como para o espectador que durante cinco meses se dirigiu para o Espaço dos Fofos para vasculhar e se deliciar com o baú da Arethuzza.
        Devido à elevação do aluguel o grupo entrega o prédio no final de 2013, mas por meio de um patrocínio consegue reabrir em 2014. Nesse ano o espaço recebe os espetáculos Epidemia e Marica, enquanto o grupo excursiona com o Baú da Arethuzza e Terra de Santo.
        Em 2015 o grupo é injustamente acusado de racismo por ativistas negros antirracistas por usar black face na peça A Mulher do Trem. Após tumultuado encontro no Itaú Cultural em 12/05/2015 o grupo decide abrir mão da blackface e apresenta novamente a peça em setembro de 2015.
 
 

        Após esse incidente, a meu modo de ver, os Fofos nunca mais foram os mesmos.

        Nesse ano são realizadas palestras preparativas para o novo espetáculo do grupo Deus na Cidade escrito por Cássio Pires e dirigido por Fernando Neves que estreia em março de 2016 e cumpre temporada até o final de maio desse ano. Era a última vez que os Fofos faziam um espetáculo em seu espaço.
        Nos meses seguintes ali se apresentam Os Dois e Aquele Muro de Ed Anderson com direção do saudoso Chiquinho Medeiros, Golgota do Coletivo Dramaturgia em Movimento e Sínthia de Kiko Marques com a Velha Companhia.
        Em dezembro de 2016 o espaço é fechado definitivamente significando o fim, esperemos que temporário, de um dos grupos mais significativos e com certeza, o mais fofo, do teatro paulistano.

        16/06/2020

               

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