Foi
em 1992 na UNICAMP que se plantou a semente desses fofos; constavam do grupo,
entre outros, Carol Badra, Stella Tobar e Newton Moreno.
O
primeiro texto de Newton Moreno (Deus
Sabia de Tudo... ) estreou em um ingrato horário da meia noite no TUSP em
2001, mas só foi acontecer em 2003 quando cumpriu temporada no Teatro Sérgio
Cardoso; nesse mesmo ano com a chegada de Fernando Neves iniciam-se as pesquisas
em circo teatro e eles montam A Mulher do
Trem.
Tudo
isso para mim é história, pois até então eu não conhecia o trabalho dos Fofos.
Em
2005, o grupo pesquisa a obra de Gilberto Freyre e encena sob a direção de
Newton Moreno Assombrações do Recife
Velho. A peça estreia no final de agosto e em outubro a peça estava em
cartaz no Belvedere, casarão semi abandonado na Rua Pedroso e foi lá que eu vi
os Fofos pela primeira vez. A
encenação fazia com que o público (cerca de apenas 30 pessoas) circulasse pelas
dependências do local e o elenco - simpaticíssimo - em muitos momentos
interagia com os espectadores. Em uma cena que acontecia no quintal o Seu
Antonio entabulou uma gostosa conversa comigo que guardo até hoje como um
daqueles instantes mágicos que só o teatro pode oferecer. Anos depois sempre que nos
encontramos, lembramos desse dia: o Seu Antonio é o Marcelo Andrade, o
primeiro fofo que me conquistou!
No ano seguinte, o grupo participou do FIT (Festival
Internacional de Teatro) de Rio Preto
e fez apresentações antológicas de Assombrações
à meia noite em uma casa enorme que no passado foi um hospício, essa casa
localizada em um descampado foi o melhor cenário que essa peça já teve. Nas
andanças pelo FIT conheci todo o restante do grupo e pude comprovar a razão do
nome deles: FOFOS! A foto abaixo mostra um momento desse encontro.
A
partir daí não perdi mais nenhum espetáculo do grupo: Ferro em Brasa (de 2006 a
que assisti em 2007 no Teatro Arthur Azevedo).
Em
2007 o grupo inaugura o seu espaço na gostosa Rua Adoniran Barbosa, travessa da
Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e ali cria ambiente extremamente aconchegante
que abrigava a sala de espetáculos e uma gostosa sala de espera com um bar onde
os atores que não estavam no elenco do espetáculo em cartaz preparavam pratos da
mesma região em que se passava a peça. Comia-se, tomava-se um bom vinho ou uma
cerveja e depois se partia para o espetáculo. Os Fofos faziam o melhor
acolhimento que se tem notícia nos teatros de São Paulo.
Em
2008 estive pela primeira vez no Espaço
Os Fofos Encenam e tive o privilégio de assistir em uma mesma noite A Mulher do Trem (às 21h) e Deus Sabia de Tudo... (à meia noite).
Puro deleite.
Seguiram-se
Memória da Cana (2009) e Terra de Santo (2012), ambas de autoria
de Newton Moreno.
2013
foi o ano do Baú da Arethuzza,
coordenado e dirigido por Fernando Neves, voltado para o circo teatro, gênero bastante
familiar a Neves. Segundo o grupo “Nesta
pesquisa, os Fofos Encenam se propõem a investigar a evolução da teatralidade
circense – cenografia, dramaturgia e interpretação - durante o período de 1910
a 1950, a partir da realização de cinco montagens.”
A
cada mês estreava uma das montagens e no período que uma estava em cartaz o
grupo ensaiava a seguinte.
-
Antes do Enterro do Anão – Pantomina
-
Vancê Não Viu Minha Fia? – Burleta caipira
-
A Ré Misteriosa – Melodrama policial
-
A Canção de Bernardete – Melodrama religioso
-
Dar Corda Para Se Enforcar –
Chanchada
E
para coroar esse delicioso projeto o grupo reprisou a impagável A Mulher do Trem que me fez ressuscitar
a frase “rir a bandeiras despregadas” na matéria que escrevi sobre a peça.
Foi
um período extremamente rico tanto para o grupo como para o espectador que
durante cinco meses se dirigiu para o Espaço dos Fofos para vasculhar e se
deliciar com o baú da Arethuzza.
Devido
à elevação do aluguel o grupo entrega o prédio no final de 2013, mas por meio
de um patrocínio consegue reabrir em 2014. Nesse ano o espaço recebe os espetáculos
Epidemia e Marica, enquanto o grupo excursiona com o Baú da Arethuzza e Terra de
Santo.
Em
2015 o grupo é injustamente acusado de racismo por ativistas negros
antirracistas por usar black face na
peça A Mulher do Trem. Após
tumultuado encontro no Itaú Cultural em 12/05/2015 o grupo decide abrir mão da blackface e apresenta novamente a peça
em setembro de 2015.
Após
esse incidente, a meu modo de ver, os Fofos
nunca mais foram os mesmos.
Nesse
ano são realizadas palestras preparativas para o novo espetáculo do grupo Deus na Cidade escrito por Cássio Pires
e dirigido por Fernando Neves que estreia em março de 2016 e cumpre temporada
até o final de maio desse ano. Era a última vez que os Fofos faziam um espetáculo em seu espaço.
Nos
meses seguintes ali se apresentam Os Dois
e Aquele Muro de Ed Anderson com direção do saudoso Chiquinho Medeiros, Golgota do Coletivo Dramaturgia em Movimento e Sínthia de Kiko Marques com a Velha
Companhia.
Em
dezembro de 2016 o espaço é fechado definitivamente significando o fim,
esperemos que temporário, de um dos grupos mais significativos e com certeza, o
mais fofo, do teatro paulistano.
16/06/2020
injustamente teu cu
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