Em boa hora os
parceiros Roberto Lage (diretor) e Maurício Inafre (produtor) revisitam esse
importante e atualíssimo texto sobre Pagu de autoria da escritora pernambucana
Tereza Freire que é uma versão teatral, feita por ela mesma, de sua tese de
doutorado.
Patrícia Galvão
(09/06/1910-12/12/1062), a nossa Pagu - que ganhou esse delicioso apelido por
um erro de Raul Bopp, que quis fazer uma abreviação do seu nome em um poema e
achou que o sobrenome era Goulart (ainda bem, pois Pagu é muito mais
significativo do que Paga) – é um exemplo de mulher transgressora e livre que
viveu plenamente seus breves 52 anos, lutando pela liberdade e pelos valores
nos quais acreditava.
Em 2010, Lage montou
esse texto tendo Renata Zhaneta como Pagu. O programa da peça contém textos
impressionantemente atuais de Renata, de Inafre e de Tereza, que parecem estar
falando do Brasil de hoje, dominado por essas execráveis figuras que estão no
poder.
Se em 2010, a peça
prestava uma homenagem ao centenário de nascimento de Pagu, hoje ela é um
retrato escancarado da triste situação do Brasil de 2022.
A encenação de Lage
acontece em uma sala da Oficina Cultural Oswald de Andrade onde até uma
iluminação externa faz parte do cenário no início da mesma. Cenário limpo (no
bom sentido) de Livia Loureiro onde a bela iluminação de Tomate Saraiva
colabora para criar os climas propostos pelo texto e pelo diretor.
Thais Aguiar é uma
ótima surpresa e revela-se uma Pagu guerreira e ciente de seu valor naquela
sociedade provinciana do início do século XX. Pagu sofreu preconceito da
direita (sua família e o entorno conservador) e da esquerda (integrantes do
Partido Comunista), mas foi em frente com seus ideais e as verdades em que
acreditava. A indignação da personagem é bem traduzida na visceral
interpretação de Thais.
A peça faz um recorte
da vida de Pagu iniciando na sua adolescência, passando por seu envolvimento
com os modernistas, com a luta política e chegando até a prisão e as torturas. Acontecimentos
após a militância como a doença e a tentativa de suicídio não são citados.
Por último, mas não
menos importante: prestando serviço IMPORTANTÍSSIMO para o público, para
pesquisadores, para os integrantes do espetáculo presentes na ficha técnica e.
mais que tudo, para a preservação da MEMÒRIA DO TEATRO BRASILEIRO, a produção
do espetáculo distribui um programa impresso com os dados básicos do espetáculo,
a ficha técnica e algumas fotos coloridas; tudo isso em uma folha A4, impressa
dos dois lados e dobrada em três. Conforme informações da produção, mil
exemplares do programa custaram R$980,00, menos de UM REAL por programa! Será
que solução desse tipo é inviável para grandes organizações como SESC, SESI e
Itaú Cultural e vamos ter que continuar a conviver com os impenetráveis
programas acessíveis (??) por QR code?
Dos Escombros de Pagu cumpre temporada relâmpago na Oficina Cultural Oswald de Andrade só até o próximo sábado, dia 19/02. Quinta e sexta às 20h e sábado às 18h. Gratuito.
CORRA!!!
17/02/2022
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