A patética Macabéa,
em sua sem-graceza e vista como uma nulidade entre os que a rodeiam, é uma das
personagens mais populares da literatura brasileira. Criada com muito amor e
humanidade por Clarice Lispector pouco antes de sua morte, já foi heroína do
filme de Suzana Amaral de 1985 com Marcélia Cartaxo e agora surge em um musical
interpretada magnificamente por Laila Garin.
Tudo funciona
harmoniosamente na encenação de André Paes Leme desde a adaptação do romance
trocando o escritor/narrador por uma atriz/narradora, passando pelas canções
criadas por Chico Cesar que permeiam a ação, criticando-a e deixando-a menos
triste e pela inventiva movimentação cênica do elenco na excelente arquitetura
cênica criada por André Cortez formada por mesas, bancos e painéis que são
movimentados à vista do público pelos atores e por uma equipe de contrarregras.
Cabe lembrar ainda da criativa iluminação de Renato Machado (as cenas da chuva
são lindas) e dos figurinos de Kika Lopes.
Claudia Ventura tem
destaque como a fogosa Gloria que rouba Olímpico de Macabéa.
Na sessão a que assisti Cláudio Gabriel, o
titular dos papeis masculinos, foi substituído por Renato Luciano; Cláudio foi
muito elogiado por seu trabalho, mas para mim que tenho grande admiração pelo
trabalho e pela voz de Luciano, tanto na Barca dos Corações Partidos,
como em seu disco solo, foi um verdadeiro privilégio vê-lo interpretando
Olímpico de Jesus.
Depois de Elis e de
Joana, Laila Garin não precisa provar mais nada nem como cantora nem como atriz,
mas seu talento e sua entrega em cena são sempre surpreendentes, tanto como a
narradora apaixonada pela criatura como, a própria criatura. Laila faz com muito
talento o equilíbrio entre narração e interpretação, com o único senão que às
vezes mantém o sotaque nordestino de Macabéa quando está narrando. Talvez por
um problema de equalização do som, a voz de Laila torna-se estridente nos
agudos das canções.
E por falar nas
canções, não se pode esquecer da excelente performance dos músicos que em
vários momentos chegam a participar da ação.
E para terminar, a cereja do bolo, que é a cena final quando Macabéa, em seu delírio após ter sido
atropelada, vê no homem que a tira do meio da rua, o príncipe encantado
profetizado por Madame Carlota.
Espetáculo sensível e belo, fiel ao romance, mas com soluções cênicas originais e interpretações que só engrandecem a obra de Clarice Lispector.
13/02/2022
A HORA DA ESTRELA ou
O CANTO DE MACABÉA está em cartaz no SESC Santana às sextas e sábados às 21h e
aos domingos às 18h até 27 de fevereiro. Sessão extra na sexta feira, 18/02, às
16h.
Ingressos: R$40,00
(inteira) – R$20,00 (meia e credencial plena).
Parabéns Cetra, vc traduziu meus sentimentos em relação a peça.
ResponderExcluirE muito lindo ver a Macabea da Laila... espetáculo poetico e lirico.
E foi muito bom te encontrar. Bjs