Ontem
no metrô ao voltar do teatro eu tentava sintetizar numa palavra a peça que
acabara de assistir e aquela que me veio à mente foi FILIGRANA. Repeti a
palavra inúmeras vezes tendo sempre à minha frente a imagem de Eduardo Okamoto
no espetáculo. Chegando em casa, minha primeira ação foi recorrer ao dicionário
para ver o significado e o Aurélio me mostrou o seguinte: Filigrana: obra de ourivesaria formada de fios de ouro ou de prata
delicadamente entrelaçados e soldados.
BINGO! Os
fios de ouro em questão são a poética e concisa dramaturgia de Cássio Pires
inspirada na obra do escritor japonês Kenzaburo Oe, a belíssima iluminação de
Márcio Aurélio e a interpretação minimalista de Eduardo Okamoto que uma vez
entrelaçados e “soldados” pelo encenador/ourives Marcio Aurélio formam a preciosa
filigrana OE oferecida ao
público.
Eduardo
Okamoto tem raro domínio do espaço cênico e dos poucos objetos de cena que
manipula durante o espetáculo (uma faca, um pequeno banco e alguns panôs). Mínimos
gestos como um abrir de mão para definir um rio (auxiliado pela delicada
iluminação) ou um estalar de dedos mesclam-se com gestos mais largos criando um
todo harmonioso com forte influência do butoh.
Outro componente importante da atuação do ator é sua perfeita dicção (não se
perde uma sílaba do que ele fala) e a versatilidade da voz criando tons
bastante distintos para o pai e para o filho deficiente. Numa temporada de
excelentes interpretações solos (vide Gustavo Gasparani em Ricardo III e Eduardo Mossri em Cartas
Libanesas), some-se este brilhante trabalho de Okamoto.
Digno
trabalho de ourivesaria é o texto de Cássio Pires. Partindo de um volumoso
romance (Jovens de Um Novo Tempo, Despertai) o dramaturgo criou este
monólogo misto de narração e interpretação onde o pai tenta definir o mundo
para seu filho deficiente em 28 mini cenas. O resultado é poético e
emocionante, sem nunca cair no melodramático.
Por
último, mas não menos importante, o entrelaçador Marcio Aurélio que com sua
sensibilidade de iluminador e encenador junta os outros fios soldando-os e lhes
dando unidade.
Após
o espetáculo Okamoto comentou comigo que iniciou o trabalho pensando em seu
pai, mas durante o processo de criação soube que ia ser papai e isso de alguma
maneira alterou a sua visão do trabalho. Caetano, um lindo garotinho de oito
meses, filho dele com a querida produtora Daniele Sampaio estava presente na
estreia para prestigiar o sucesso do
pai.
Momentos
de rara poesia aguardam por aqueles que pretendem assistir a este imperdível espetáculo.
OE está em cartaz no Espaço Beta do Sesc
Consolação de 04 de maio a 03 de junho às segundas, terças e quartas sempre às
20h.
05-05-2015
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