Foto de João Caldas
O
roubo (apropriação) de crianças pelos agentes da ditadura militar argentina
(1976-1983) é tema recorrente em obras realizadas que tentam resgatar esse momento
atroz da história da humanidade. Um dos exemplos mais significativos e melhor
realizados sobre o assunto é o filme A
História Oficial (1985), dirigido por Luis Puenzo e com interpretação
memorável de Norma Aleandro.
A
peça Potestad de Eduardo Pavlovsky em
cartaz no Sesc Pompeia trata do assunto
de forma bastante original. Tendo como premissa o conceito de banalização da
maldade assim batizado por Hannah Arendt, a trama mostra um médico simpático e bonachão
que, se não participou, ao menos compactuou com as forças repressoras e em
certa ocasião teve a oportunidade de se apropriar de uma criança filha de
guerrilheiros mortos, após terem sido torturados. Criada com muito amor pelo
médico e pela sua esposa, anos depois, a criança é reconhecida pela família
biológica e é retirada do casal.
A
ação se passa quando o protagonista lamenta a perda da filha amada e o estado
letárgico em que sua mulher se encontra após essa perda. O médico inconformado
clama por justiça e passa seus dias rememorando os dias felizes em que ele e
sua mulher tinham sua filhinha Adriana. Humanizando a personagem, Pavlovsky nos
faz refletir sobre o fato que a maldade não precisa ter cara feia para agir.
Numa
interpretação bastante diversa de seus últimos trabalhos, Celso Frateschi
desempenha o médico com muita humanidade enfatizando a proposta do autor,
lembrando um pai/avô portenho de origem italiana. Chegamos a simpatizar com ele
e lamentar a sua sorte, porém, fica claro que o perigo está exatamente nessa
aparente normalidade/humanidade do repressor.
A
presença, a partir de certo momento, da personagem Zita (uma amiga? uma assistente
social?) em nada contribui para o desenvolvimento da trama não ficando clara a
razão de sua participação.
A
direção de Pedro Mantovani centra-se no trabalho do ator que se movimenta no
discreto cenário criado por Sylvia Moreira.
Nunca
é demais relembrar os desmandos das ditaduras militares que grassaram nos
países latinos americanos na segunda metade do século XX e reforçar sobre o
peso de seus nefastos efeitos sentidos até os dias atuais. Lembrar é resistir.
Relembrar é alertar sobre os perigos da volta de regimes totalitários.
Potestad está em cartaz no Sesc Pompeia
de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 19h só até o dia 17 de maio. NÃO
DEIXE DE VER.
10/05/2015
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