O
meu amigo e crítico de cinema Luiz Gonzaga, eventualmente escreve sobre os
espetáculos teatrais a que assiste. Luiz inicia matéria sobre a peça Apenas o Fim do Mundo da seguinte
maneira: “DI-LA-CE-RAN-TE! A-VAS-SA-LA-DOR!
Me digam: como é que a gente não explode depois de ver... Não! Me enganei! A
gente explode, sim. Eu explodi”
Hoje
sou eu que entro na seara de Luiz escrevendo sobre uma experiência cinematográfica
e pedindo licença para iniciar com a mesma frase:
DI-LA-CE-RAN-TE!
A-VAS-SA-LA-DOR! Me digam: como é que a gente não explode depois de assistir a A Noite dos Desesperados? Não! Me
enganei! A gente explode, sim. Eu explodi!
Trata-se
de um dos filmes que mais me marcaram. Está entre os 20 melhores filmes da
minha vida de cinéfilo. Devo ser masoquista, pois é também um dos filmes mais
cruéis e mais tristes a que já assisti. Vi pela primeira vez no início dos anos
1970 (o filme é de 1969) e depois só o revi na telinha da TV, sempre com o
mesmo impacto.
Eis
que, em apenas duas sessões, ele está sendo apresentado em excelente cópia na
telona do Centro Cultural São Paulo, que tem ótima projeção. A primeira sessão
ocorreu na quarta feira, dia 24/04 e a próxima será no domingo, dia 28/04 às 17h30.
Conclamo todos seres humanos para essa experiência DILACERANTE e AVASSALADORA.
E não expluda (ou exploda), quem for capaz!
O
título original do filme They Shoot
Horses, Don’t They? é o mesmo do romance de Horace McCoy, no qual é
baseado. Em português seria algo como Mas
Se Mata Cavalos, Não É? Por sinal, título bem mais rico e significativo do
que A Noite dos Desesperados.
A ação do filme acontece durante a grande
depressão americana dos anos 1930 em uma maratona de danças, onde os
participantes são submetidos a torturante competição com o objetivo de
ganhar 1500 dólares, prêmio para o último casal resistente. Há momentos quase
insuportáveis de se aguentar como aqueles das duas corridas a que o grupo é
submetido. O filme é uma clara metáfora às privações e manipulações que o ser
humano tem de suportar para poder sobreviver e depois de 50 anos continua
atualíssimo.
Um
elenco estupendo dá vida às pobres personagens ali presentes: Susannah York é
uma aspirante a atriz que tenta colocar glamour naquele mundo sórdido (sua cena
de loucura no chuveiro é antológica), Gig Young interpreta o frio e calculista
mestre de cerimônias, Michael Sarrazin é o sensível rapaz meio caipira que faz
dupla dançante com Gloria, a personagem sofrida de Jane Fonda que tem a maior
interpretação de sua carreira e, quiçá, uma das maiores de toda a história do
cinema. Testemunhar o trabalho de Jane Fonda neste filme reveste-se de verdadeira
descida nas profundezas da alma humana. Experiência inesquecível. O restante do
elenco é impecável, cabendo destacar o marinheiro de Red Buttons, a garota
grávida de Bonnie Bedelia e seu marido Bruce Dern.
A
meu modo de ver, Sydney Pollack realizou com este trabalho o grande filme de
sua vida.
26/04/2019
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