Quantas
vezes NÓS somos confrontados com a própria passividade/covardia diante de fatos
que ocorrem aos nossos olhos como agressões a terceiros, desmandos dos
poderosos, atos preconceituosos? As
justificativas são sempre as mesmas: “Não tenho nada com isso”, “Não quero
interferir”, “Tenho medo das consequências” ou simplesmente não justificamos
nada e continuamos deitados em nosso berço esplêndido.
Ao
colocar os três irmãos que estão reunidos para organizar a festa de bodas de
ouro dos pais sentados junto com o público e ao fazê-los dirigir as falas de um
ao outro para as pessoas da plateia, os diretores Yara de Novaes e Carlos
Gradim nos põem no olho do furacão e apontam o dedo para nossas reações aos
fatos apresentados.
As
frágeis relações familiares apresentadas no primeiro quarto da peça são só uma
introdução para o mote principal que é a reação dos irmãos diante do que está
acontecendo no apartamento vizinho. A peça é um libelo contra a violência
doméstica, mas seu conteúdo pode ser extrapolado para qualquer tipo de
passividade do homem contemporâneo diante das barbaridades que acontecem à sua
volta.
A
peça de autoria de Eloisa Elena tem ótimas soluções cênicas desde o cenário de
André Cortez feito todo com cadeiras de plástico branco, passando pelos laços
que prendem materialmente os irmãos em suas relações familiares e as rubricas
ditas em coro pelo elenco. Dignas de nota também a trilha sonora de Dr. Morris
e a iluminação de Guilherme Bonfanti.
Cláudio
Queiroz e Alexandre Cioletti encarregam-se dos dois irmãos. Cioletti é o Irmão
1, meio irresponsável e pobre e Queiroz é o arrogante Irmão 2, bem sucedido
materialmente e acreditando que tudo pode ser resolvido com dinheiro. Ambos
realizam ótimas composições e dão suporte para o magnífico trabalho de Eloisa
Elena que é a residente no local da reunião e que, conhecedora das agressões
sofridas pela vizinha, além de não fazer nada, procura esconder o fato dos
irmãos, fechando janelas e tapando buracos. O seu monólogo final com as luzes
da plateia acesa são mais um alerta para a nossa passividade.
Os
vizinhos ouvidos em off são
interpretados por Lavínia Pannunzio e Joca Andreazza. E preste atenção: como
bom voyeur você pode testemunhar as
agressões na saída do teatro.
Esta
corajosa encenação de Yara de Novaes e Carlos Gradim a partir da peça de Eloisa
Elena enriquece o currículo do Barracão
Cultural, que já nos ofereceu, entre
outros, os memoráveis A Mulher Que Ri (2008), Faca nas Galinhas (2012) e On
Love (2017).
Pela
maneira como é enfocada, a peça também poderia se intitular NÓS, tanto no
sentido do pronome (todos NÓS somos passivos), como naquele do substantivo (os
NÓS que nos une por meio dos laços que prendem os irmãos). É curioso notar que
o grupo tem uma peça com esse nome para estrear em maio.
ENTRE
realiza temporada relâmpago no Itaú Cultural até este domingo (07/04) e segue
para a Oficina Cultural Oswald de Andrade de 11 a 20 de abril, sempre com
ingressos gratuitos. NÃO DEIXE DE VER.
Um
bom começo para NÓS lutarmos contra nossa passividade é nos juntarmos com todos
aqueles que estão gritando/lutando contra o fechamento das Oficinas Culturais,
entre elas, a icônica Oswald de Andrade.
07/04/2019
Cetra:
ResponderExcluirENTRE é um soco no estômago de cada um de NÓS!
Parabéns pela análise
ab
Maurício
Cetra, parabéns pelo olhar aguçado e sensível! Obrigado por todo o apoio e solidariedade à Oswald de Andrade.
ResponderExcluir#todospelacultura