Transamazônica
segundo o programa da peça homônima é uma “estrada
que liga nada a lugar nenhum”, projeto megalomaníaco de governos
prepotentes que causou enorme e irreversível dano ao meio ambiente e aos
habitantes da região. O dramaturgo paraense Rudinei Borges dos Santos nos
propõe uma viagem por vários trechos dessa estrada especificando o quilômetro e
a cidade visitada.
Em
um prólogo, cinco capítulos e um epílogo o público toma conhecimento de sete situações
vividas por colonos, indígenas, pistoleiros e crianças narradas e interpretadas
com garra pelos atores Geraldo Fernandes e Leandro Lago. As narrativas são
acompanhadas por canções regionais e pelo som hipnotizante criado ao vivo pelo
carismático Juh Vieira cuja presença e som são tão envolventes que chegam a
desviar a atenção do espectador.
Com
sua veia poética e facilidade em lidar com as palavras Rudinei trata de
assuntos sérios e até trágicos com muita delicadeza e beleza, haja vista o
belíssimo e triste capítulo Iraxeru
onde o espírito de uma menina retorna ao local onde era sua aldeia e esta não
existem mais e até aquele dos pistoleiros onde se cita de passagem o
assassinato de uma, assim chamada, freira comunista, referência à missionária
Dorothy Mae Stang (1931-2005) sobre o assassinato de quem o dramaturgo tinha a
intenção de escrever uma peça, mas foi impedido de viajar à BR-230 por notícias
de violência na região. Esperemos que isso ainda venha a ocorrer, para que o
teatro também se torne testemunha desse trágico fato que aconteceu em 2005 na
localidade de Anapu (Km 2375 da estrada, segundo a peça).
O
cenário sóbrio de Telumi Hellen é um espaço cênico vazio com um longo pano
vermelho ao fundo, talvez simbolizando todo o sangue já derramado na região. A
iluminação de Decio Filho direciona a ação dos atores.
O
programa, além de bonito, contém o texto completo da peça.
TRANSAMAZÔNICA
está em cartaz na SP Escola de Teatro às sextas, sábados e segundas às 21h e
aos domingos às 19h até 22/04. Ingressos gratuitos.
09/04/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário