O
filho pródigo à casa retorna e provoca uma revolução emocional em toda a
família e nele próprio. O denso texto de Jean-Luc Lagarce (1957-1995) não deixa
de ser um drama familiar, tema rico ao teatro burguês, mas está há anos luz
desse tipo de teatro, respirando contemporaneidade tanto na forma como no
conteúdo.
Luiz
é um escritor introspectivo portador do vírus da AIDS que resolve visitar a
família após 12 anos de ausência para revelar sua morte eminente. É recebido
com surpresa pela descompensada família (mãe, o irmão Antonio, sua mulher Catarina
e a irmã caçula Suzana) que vomita traumas sobre ele.
Constituida
de longos monólogos (os chamados “bifes” na gíria teatral) a peça mostra as
tentativas frustradas de Luiz contar a razão de sua visita. O filme de Xavier
Dolan (2016) baseado na peça driblava esse fato transformando boa parte do
texto em diálogos. A excelente tradução de Giovana Soar é fiel ao original,
assim como a encenação do Grupo Magiluth
dirigida pela tradutora e por Luiz Fernando Marques Lubi.
A
criativa encenação é itinerante e se utiliza de todos os cantos da sala multiuso
do 13º andar do SESC Avenida Paulista, evitando eventual monotonia que os
longos monólogos poderiam provocar. Há momentos reveladores como aquele em que
o público assiste do alto uma das discussões familiares e outros belíssimos
como o monólogo da mãe em frente ao espelho.
O
grupo pernambucano Magiluth amadurece
e cresce a cada visita sua pelos palcos paulistanos. Esta montagem atesta mais
uma vez a excelência de seus componentes, que desta vez se restringiram à
interpretação.
Pedro
Wagner com sua potente voz grave interpreta o personagem mais complexo que,
apesar de desencadear a ação, é extremamente passivo ao ouvir os reclamos de
seus parentes, limitando-se a olhares tristes e perturbados.
Mário
Sergio Cabral, que evolui como ator a cada dia, empresta seu talento ao irmão
Antonio que tem comovente e ultrarrealista monólogo quase ao fim da peça.
Há
bem vindos e delicados toques de humor (jamais caricaturais) na composição das
personagens femininas feitas por homens: Catarina, a patética cunhada que talvez
seja a única a perceber que algo vai mal com Luiz é interpretada de forma
impecável por Giordano Castro. Bruno Parrera é responsável pela irmã Suzana que
vocifera com a mãe e Antonio durante todo o tempo. A mãe vivida por Erivaldo
Oliveira tem características de uma mater
dolorosa que assiste em silêncio o desmoronamento das relações familiares;
esses silêncios enquanto os outros se digladiam são um dos pontos fortes do
espetáculo.
Apenas o Fim do Mundo não é espetáculo fácil
de ver, se enquadrando naquilo que Nelson Rodrigues chamava de teatro
desagradável, mas extremamente necessário. As relações humanas são expostas de
forma cruel e devastadora.
APENAS
O FIM DO MUNDO está em cartaz no SESC Avenida Paulista só até o próximo
domingo, dia 05 de maio, mas a próxima semana contará com várias sessões
extras. Além das sessões já previstas no feriado (01/05) e no domingo às 18h e
de quinta a sábado às 21h, as sessões extras sempre às 17h ocorrerão na quinta,
na sexta e no sábado. CORRA E GARANTA SEU ESPAÇO NA CASA DA FAMÍLIA DO LUIZ!
28/04/2019
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