quarta-feira, 22 de março de 2017

4ª MITsp – BALANÇO


         Encerra-se a 4ª MITsp que aconteceu de 14 a 21 de março de 2017 sem o brilho das edições anteriores. No meu modo de ver não houve nenhum espetáculo que causasse os impactos provocados por Sobre o Conceito de Rosto no Filho de Deus, Cineastas (MIT 2014), A Gaivota, Woyzeck, Opus nº 7 (MIT 2015), Still Life, An Old Monk e, principalmente, Ça Ira (MIT 2016).
         Essa observação inicial não invalida de maneira nenhuma a importância e a necessidade do evento deste ano organizado com muita garra por Antônio Araújo e Guilherme Marques.
         Não tive oportunidade de acompanhar, como nos anos anteriores, os eventos paralelos, restringindo-me aos espetáculos. Por falta de agenda deixei de assistir a A Missão em Fragmentos, esperando fazê-lo na temporada que será realizada em abril no Centro Cultural São Paulo.

         Do ponto de vista puramente pessoal faço alguns comentários sobre os espetáculos na minha ordem de preferência:


         - MATELUNA – (Chile) – Dramaturgia e direção de Guillermo Calderón. Lúcido espetáculo de teatro documentário com consistente construção dramatúrgica que prende a atenção do espectador do início ao fim. Emociona e faz refletir sobre a ação dos grupos de luta armada, dos desmandos da polícia e da justiça e da força do teatro em fazer denúncias. Foi o grande momento desta MITsp.


         - BLACK OFF – (África do Sul) – Dramaturgia, direção e atuação de Ntando Cele. A performance de Ntando Cele é não menos que arrasadora quer na primeira parte onde interpreta com ironia uma branca preconceituosa, quer na segunda onde faz um violento libelo contra as classes dominantes que são predominantemente brancas.

         - REVOLUÇÃO EM PIXELS – (Líbano) – Direção e atuação de Rabih Mroué. Definida por Mroué como palestra acadêmica trata-se da exposição de interessantíssimo material sobre a situação sírio-libanesa, formas de filmar uma manifestação e os aterradores vídeos truncados pelas armas de franco atiradores. Mais um grande exemplo de teatro documentário. Muito simples na forma, mas riquíssimo no conteúdo.

         - CAVALGANDO NUVENS – (Libano) – Dramaturgia e direção de Rabih Mroué. A mais poética e palatável peça da trilogia Mroué. Por meio de slides e vídeos a peça conta a vida de Yasser Mroué, irmão do diretor, que aos 17 anos foi atingido pela bala de um franco atirador, teve sérios danos cerebrais e tem seu lado direito paralisado. Yasser é uma simpática presença em cena, cantando e declamando poesias.

         - PARA QUE O CÉU NÃO CAIA (Brasil) – Criação e direção de Lia Rodrigues. Espetáculo ritualístico, sem palavras com nove excelentes bailarinos. Afiado como uma faca e muito forte.

         - TÃO POUCO TEMPO (Líbano) – Dramaturgia e direção de Rabih Mroué. Trata-se de uma contação de histórias feita pela esposa de Mroué, Lina Majdalanie. A trama lembra aquela de O Berço do Herói de Dias Gomes. Precisa na primeira parte, torna-se cansativa na segunda.

         - POR QUE O SR. R ENLOUQUECEU? – (Alemanha) – Direção de Susanne Kennedy. A premissa da encenação é promissora: para mostrar a vida vazia e tediosa do Sr. R, ele e as figuras com quem convive usam máscaras que não mostram os movimentos faciais que poderiam indicar sentimentos, movem-se como autômatos e têm suas vozes pré gravadas. Isenção total de pulsação. O cenário (excelente) confina-se em uma caixa montada no centro do palco. A novidade funciona nos primeiros dez minutos, mas depois se torna tão tediosa quanto a vida do Sr. R. O filme de Fassbinder ia mais direto ao ponto apresentando o mesmo resultado.

         - AVANTE, MARCHE! – (Bélgica) – Direção de Frank Van Laecke e Alain Platel, composição e direção musical de Steven Prengels. Quase um show, o espetáculo demora a engrenar com as gracinhas irritantes de Wim Opbrouck, a segunda parte tem belos números de dança, a presença dos músicos brasileiros e ótimos momentos de Opbrouck.

         - BRANCO – (Brasil) – Texto de Alexandre Dal Farra e direção do autor e Janaína Leite. Um equívoco na forma e no conteúdo: texto e montagem (figurinos, cenário, adereços) confusos fizeram desta a pior experiência da 4ª MITsp. Alexandre Dal Farra tem uma brilhante trajetória que vem desde Mateus, 10, passando pela excelente trilogia Abnegação, mas desta vez o caldo entornou e o resultado de Branco é decepcionante. Conhecendo o autor , posso afirmar que ABSOLUTAMENTE ele não é racista, mas a peça é tão confusa que algumas pessoas chegaram a taxá-lo como tal. Uma pena!
         
         Finda a quarta, já vamos nos preparando para a quinta MITsp que ocorrerá de 01 a 11 de março de 2018. Mais uma vez São Paulo agradece Antônio Araújo e Guilherme Marques pela realização desse fundamental evento para o nosso teatro.


22/03/2017

Um comentário:

  1. Boa tarde. Acho que há um equívoco com relação a peça brancos. Ela não é do Tablado de arruar.

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