O REDIMUNHO ILUMINA A OCUPAÇÃO NOVE DE JULHO
1.
UM
POUCO DE HISTÓRIA.
Tão fragmentada e inacabada, mesmo
assim Woyzeck é a obra mais visitada do dramaturgo alemão Georg Büchner
(1813-1837) morto de tifo prematuramente com apenas 23 anos de idade.
Já foi ópera de Alban Berg em 1925,
filme de Werner Herzog em 1979 e peça musical de Bob Wilson e Tom Waits em
2002, para citar apenas as leituras internacionais mais famosas da obra.
No Brasil acumulou dois retumbantes
fracassos no Rio de Janeiro. O primeiro em 1948 com o título de Lua de
Sangue foi dirigido e interpretado por Ziembinski tendo Maria Della Costa
no papel de Maria; o segundo em 1971 foi uma grande produção fracassada da cantora
Maysa que se arriscou na interpretação de Maria com Antonio Pedro no papel
título e tinha a direção de Marilda Pedroso.
Em São Paulo houve uma bem sucedida
montagem em 2003 com direção de Cibele Forjaz, tendo Mateus Nachtergaele e
Marcela Cartaxo nos papeis principais.
Às vésperas do fechamento dos teatros
por conta da pandemia provocada pela covid 19 foi estreada e logo depois adiada
uma produção do Núcleo de Pesquisa do Ágora Teatro dirigida por Celso
Frateschi.
Agora chegou a vez do Grupo
Redimunho de Investigação Teatral visitar esse intrigante e muito
contemporâneo texto de Büchner, apesar de seus quase dois séculos de
existência.
2.
O
WOYZECK DO REDIMUNHO.
Em primeiro lugar cabe destacar a “ocupação”
que o espetáculo faz das áreas externas da Ocupação 9 de Julho do MSTC
(Movimento Sem-Teto do Centro). Parece
que cada canto do belo espaço foi preparado para receber as várias cenas que
compõem o início do espetáculo todo ele iluminado criativamente por Lui Seixas.
O público acompanha essas cenas caminhando até chegar ao espaço cênico também
ao ar livre onde acontece a trama principal da peça de Büchner.
As cenas acontecem em três tablados
(onde estão os objetos de cena e estruturas verticais que remetem a forcas,
símbolos de morte e castigo) e nos entornos dos mesmos. Aqui também se faz
notar a bela iluminação de Lui Seixas e o aproveitamento de cada canto do
espaço.
O texto original é recheado de “bifes”
(jargão usado no meio teatral para nominar longos monólogos) e Rudifran Pompeu
o recheia com outros tantos, além dos ótimos números musicais (direção musical
de Luís Aranha), fatos que tornam o espetáculo, a meu ver, longo demais.
Essas inclusões reforçam os valores em
que o Redimunho acredita e milita como a luta contra preconceitos de
classe, gênero e raça, denúncia de machismo e feminicídio procurando trazer o
texto para nossa triste realidade. Tais inclusões comentam o original do
dramaturgo alemão que por si já carrega um forte poder de denúncia. De qualquer
maneira, sempre é bom lembrar que: QUEM NÃO LUTA TÁ MORTO!
Danilo Amaral e Carolina Moreira
encarregam-se das personagens Woyzeck e Marie. O numeroso elenco defende com
garra e muita energia todo o espetáculo, tanto nos textos falados como nos números
musicais.
Por dar maior visibilidade à Ocupação
Nove de Julho e pelo digno e importante espetáculo apresentado, vale a pena
ir até a Rua Álvaro de Carvalho, 427 (quase esquina da Rua Martins Fontes) às
segundas e domingos às 19h. Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo.
Ingressos: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia).
Todas as fotos de autoria de Arnaldo D'Ávila, com exceção daquela creditada a Jardiel Carvalho.
10/05/2022
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